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Mostrando postagens de 2011

Um sorriso completo

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Estou sentado na recepção do sindicato onde trabalho numa manhã nublada e quente quando chega até a mim um senhor gordo, aparentando cansaço e suando muito. Deu-me um bom dia engasgado e, com uma folha de papel em mãos, perguntou-me onde era o consultório dentário: -Eu ‘vim’ moço por ordem da moça lá da associação do comércio. É que eu vou ser o Papai Noel este ano e preciso colocar uma dentadura urgente antes do Natal... A burocracia que envolve muitos segmentos por aí atrapalham e muito mais ainda quando o dentista que iria tratar do caso estava de férias. Questionamos isso sentindo as mãos atadas. Depois de algumas ligações, a moça da associação pediu pra dar o seguinte recado ao vulgo Papai Noel: -Peça que ele venha até aqui que vamos dar o endereço de outro dentista pra ele... Num certo tom de desabafo, Papai Noel então me decreta: -Amigo, desculpe eu estar te falando isso, mas já é o quarto dentista que me mandam ir e até agora nada de resolver esse ‘pobrema’. Pior é que eu não e

O valentão

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Ele era um garoto mau, desses que quando põe os pés no chão pela manhã o diabo pensa: “Putz, ele acordou”. Vivia o dia todo estragando as brincadeiras da criançada. Diante dele, todos pareciam fracos. Ele não era o dono da bola, mas era como se fosse. Um pouco mais forte e mais velho que os demais, chegava “rasgando” as canelas. Feliz quem estivesse no seu time. Infeliz de quem divergisse. Era temido até por certos adultos e destemido diante de tudo. Lembro-me com toda exatidão o dia em que ele pulou o muro do velho cemitério e voltou trazendo nas mãos um crânio. Isso mesmo, uma cabeça de caveira que ficou chutando pela rua como se fosse uma bola, rindo a valer com a peripécia. As meninas cortavam um dobrado com o tal que sempre vivia erguendo suas saias pondo à mostra tudo que não se pode mostrar. As guloseimas tinham que passar por sua inspeção. Ai de quem não desse “um téco” pra ele. Teria que correr muito ou ia comer “bicudas” pra valer. E o danado corria... meus Deus como corria.

Profetas do futebol

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Estão parados em frente a banca de jornal tentando achar notícias novas deste defasado país. Uma, a mais comentada, traz estampada em quase todos os diários a manchete: “Santos e Barcelona”. Título alusivo ao inédito confronto que decidirá o mundial de clubes no Japão. "Se Messi é de outro mundo, o Santos tem o Alan Kardec". Essas pérolas vem entre projeções e suposições não descartando a velha frase de que “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Uma conversa me chamou a atenção pelo teor profético e político que designou aquele embate: “Pela formação dos times, a tendência é o lateral Pará marcar o Messi. Será que o Pará consegue parar o Messi? Meu amigo, não haverá a necessidade nem de um plebiscito. O Messi vai 'partir' o Pará em três"...

O esplendor das manhãs

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Do meu quarto, mal vejo o dia clarear. Só sei dessa dádiva porque um casal de Sanhaços me avisa. Mais meia hora tentando cochilar e já é o momento de levantar pra encarar o dia. Eles dois não se desgrudam e cantam mesmo parecendo querer num rebento criar poesia logo cedo. O barulho do chuveiro e o rádio de pilhas afastam por um momento a sonoridade desses dois. Nessas alturas, em disputa com os ponteiros do relógio, o dia já está tomado por outros sons deixando o casal azulado encoberto. Na dieta da manhã me acompanham até a hora do almoço duas bananas. Mais abaixo, na rua, na calçada paralela ao muro do velho cemitério, um pé de acerolas banhado pelas nevoas da madrugada, instalam a rubra cor de seus frutos a alheios distintos. Eu, na pressa do instante, sou um desses, reforçando meu café. E lá também está o casal de sanhaços gulosos na refeição matinal. Ao me verem, esvoaçam assustados e pousam no fio acima. Com toda licença, enfio meus braços entre os arbustos em busca da mais sucul

Larápios (Republicando)

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Mamãe, Papai Noel realmente existe? Claro querido, existe sim. Ele é um velhinho bonachão, de barbas brancas e se veste de vermelho. Quando chega o Natal, ele voa de trenó por todos os lugares levando os presentes das crianças e entrando pela chaminé das casas. Acho que já lhe contei isso... Humm... Não me lembro. Mas minha irmã disse que o Papai Noel não existe nada. Ele é apenas uma pessoa que arranja um serviço extra nas lojas em época de Natal somente pra ganhar um dinheirinho. Lá mesmo na sua loja e do papai tem um, não tem? Tem sim querido. Sua irmã fala isso agora. Quando tinha a sua idade ela era a primeira a colocar as meias na janela esperando os presentes dele. Sabe mamãe aquele rapaz filho da Dona Esmeralda? Acho que ele saiu da cadeia e arranjou um emprego de Papai Noel em alguma loja. Como assim meu filho? Como você sabe disso? Eu vi mamãe... Só que ele estava com uma roupa bem diferente dessa que a senhora falou. Ele usava um macacão todo amarelo com alguns números no pe

Um doce e aquecido Natal

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OS ENFEITES: Natal era época de procurar um galho seco de árvore e gastar nele todo o pacote de algodão da gaveta. As bolinhas, luzentes e coloridas, eram geralmente compradas na Loja do Seu Arnaldo. Era simples e trabalhoso, mas ficava bonito. A RELIGIÃO: Meu Pai insistia em dizer que os presentes eram “dados pelo Papai do céu, não pelo Papai Noel”. Talvez seja por isso que desacredito naquele que voa em trenó e em toda mídia que se forma em torno dele e acredito muito mais no Papai do céu que na figura de menino fica esquecido na sua humilde manjedoura. AS AUSÊNCIAS: Meu avô já não estava mais por ali, arrastando seus chinelos pelo corredor. Minha avó já doía na lembrança e eu enfrentava a eternidade de um muro que me separava da solidão de ser eu. AS GULOSEIMAS: Na geladeira, os doces esperavam por nós. Pudim de pão amanhecido, arroz doce e manjar. Dava pra ver também algumas garrafas destinadas aos adultos. O forno do fogão estava sempre aquecido. Minha mãe passava o dia todo prepa

Energia de menino

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Um chamado de emergência vem sempre recheado de algumas surpresas. Era assim quando alguém pedia a ambulância no pronto atendimento da Santa Casa de Aparecida onde trabalhei. Precisamente num dia 25 de dezembro, uma mulher solicitou a ambulância que prontamente foi ver do que se tratava o caso. Alguns minutos depois eis que chagam ao P.A. a mulher e seu filho com a estória de que o garoto, correndo atrás de pipa por aí, acabou fincando uma tomada no calcanhar. Foi então que a mãe disse: "Meu filho disse que está com o pé machucado desde ás 4 da tarde. Criança você sabe como é, tem tanta energia que acaba se esquecendo do machucado. Agora que eu cheguei do meu serviço é que ele veio me mostrar"... O que eu não sabia é que no pé do garoto ainda estava fincada a tomada, com seus dois "plugs"afundados no calcanhar. Até que ele estava calmo e a mãe também. Afinal, ele estava com aquilo fincado no pé a mais ou menos umas 4 horas. A mãe só não gostou quando alguém falou br

A cara da administração

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Foi na tarde de hoje, dia 8 de dezembro que eu liguei para o Programa Januário Sanini da Rádio Clube de Guaratinguetá para fazer a denúncia do acúmulo de lixo onde se encontra restos de caixão, roupas de defuntos e panos usados em sepultamentos como fôrros de caixões jogados na calçada da Rua Floriano Peixoto em Aparecida. Os restos foram jogados por funcionários do Cemitério Santa Rita e já estão expostos há cinco dias, obstruindo a passagem pela calçada e colocando animais e moradores sob riscos biológicos. No mesmo instante em que eu estava ao telefone, o repórter/apresentador Januário Sanini tentou ligar para o DSM da prefeitura mas ninguém atendeu às ligações. Por e-mail, mandei as referidas fotos de mais um lamentável descaso por parte da administração municipal de Aparecida. E bem na semana que se comemora os 83 anos da Emancipação Político da cidade. Vamos ver se durante a semana "os caras de pau" irão dar cabo desta situação...

Histórias de um sagrado manto

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A camisa do Corinthians virou uma vitrine mundial para se colocar uma propaganda. Mesmo assim, a razão de vestir este manto, vai muito além que uma mera jogada de marketing. A partir da década de 1980, a publicidade estava liberada nas camisas de futebol, mas o Corinthians não conseguia encontrar patrocinadores. Era o período da Democracia Corintiana, e a camisa estampou nas costas a frase "Dia 15, vote!", embalado pelas eleições diretas para governador em 1982. A frase causou um “frisson” na sociedade, já que o Corínthians é um time historicamente de esquerda devido a sua fundação por parte de operários. Naquele mesmo ano, a empresa de material esportivo Topper exibia o seu logo no lado direito da camisa e, na final do Campeonato Paulista, contra o São Paulo, exibiu nas costas - como exigia a legislação da época - o patrocínio da Bombril. Assim, o Corinthians foi o primeiro clube brasileiro a estampar um patrocínio em seu uniforme de jogo. Em 1983, a Cofap foi a primeir

Catarse

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Por descuido do tempo, eu não vivi os dias amargos da fila corinthiana que acabou em 1977 com o gol do Basílio. Nascido em 1973, pude perceber a existência de um time chamado “Corinthians” apenas em 1979, com o time já campeão. Mas mesmo sem ter vivido aquela longa fila, costumo dizer que algumas derrotas entristeceram muito de lá pra cá. E foi justamente em uma derrota para o São Paulo antes das finais do campeonato paulista de 1982 que me vi como corinthiano de verdade. A queda para a segunda divisão em 2007 foi para a minha geração o ponto alto deste sofrimento. Nem as batalhas contra o Palmeiras nas Libertadores de 1999 e 2000 onde saímos derrotados doeu tanto. Ironia? Não. Porque com o passar do tempo, o torcedor corinthiano incorporou o rótulo de “sofredor” cantando e agradecendo a Deus por isso. O sofrimento tem a astúcia de nos levar além. Algumas derrotas, desenhadas pelo silencioso plágio da vida designado destino, firmaram com a identidade corinthiana um aspecto evolu

Adeus Doutor!

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Era um diferenciado. Craque dentro de campo e melhor ainda fora dele. Símbolo de liberdade, Sócrates foi o líder da “Democracia Corinthiana” que revolucionou o futebol. Dizia que o Corinthians era mesmo um símbolo de brasilidade. Pelas eleições diretas para presidente Sócrates subiu em palanque dizendo que “queria mudar seu país”. Os olhos de todo mundo se direcionavam para seus brilhantes toques de calcanhar, sua marca absoluta. Foi assim que começou a usar tornozeleiras amarelas. Braços estendidos, punhos cerrados. Era assim que comemorava seus gols. Era tudo numa espécie de protesto ante a repressão política que imperava na época. Em 1984, num dos comícios das “diretas já”, o Doutor da bola bradou para milhares de pessoas que “se houvessem eleições diretas para presidente, ele não deixaria seu país”. A emenda do Deputado Dante de Oliveira não foi aprovada, e o craque se transferiu para a Itália para jogar na Fiorentina, onde ficou por pouco tempo. Polêmico, entusiasta, revolu

Sonhos

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As nuvens carregadas daquele céu de domingo não tinha dado brechas para o dia esboçar nenhum raio de sol. Não havia dormido direito pensando naquele dia importante. Acendi um cigarro e, no meio das baforadas, li de relance as manchetes dos jornais na banca. Não tirava a decisão da cabeça. Entrei no buteco costumeiro e pedi um café dando uma última tragada no bendito. Olho de repente e, no fundo do bar, quase na penumbra daquele dia carrancudo, um cara tomava uma cerveja logo pela manhã. Tive a nítida impressão de que o conhecia de algum lugar. Voltei para o meu café namorando um pastel na vitrine. Com tantas fisionomias na mente, lembrei-me dele e levei o maior susto: Era o Tite, treinador do Corinthians. O dono do bar, que lavava alguns copos na pia, respondeu minha pergunta antes de ser feita: “É ele mesmo. É o Tite.” Tentei reagir com naturalidade a presença dele por ali. Pensava aflito qual seria minha resposta se ele viesse em minha direção e me perguntasse: “Amigo, Mor

A fuga

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...Enquanto ela ia pra casa da irmã passar o domingo todo, ele prometia que ia se comportar e ficaria em casa, acompanhando o jogo pelo rádio. Sim, pelo rádio mesmo. Sentado quieto no velho sofá da casa. O futebol, aquela paixão alvinegra que a esposa tanto odiava, tinha uma conotação ainda mais romântica quando o rádio de pilhas trazia a emoção do jogo. Romantismo que deixava a mulher ainda mais enciumada, pois parecia mesmo que “ele amava o Corinthians e torcia pra ela”. Só que aquele dia era dia de decisão. As mãos trêmulas suavam e era preciso dar vazão aquele nervosismo. Precisava xingar, falar palavrão, gritar o nome do time, se esbaldar numa cerveja bem gelada. Perder a voz literalmente. Depois sair para o abraço. Só mesmo uma paixão assim era capa de fazê-lo trair a confiança da amada. E ele não se conteve... Tinha que torcer também para que o celular não tocasse. Ou, se tocasse, um silêncio conjunto pudesse clarear sua voz no telefone sem denunciar a “fuga para a busca da

As iguarias

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Em tempos atrás, comer bem ainda era tabu. Era muito raro alguma lanchonete ou restaurante de renome ancorado na busca suprema de agradar com um toque de classe os mais apurados paladares. Com o tempo, passaram a existir em Aparecida muitos bares e lanchonetes que inseriram no mercado iguarias distintas, fazendo que a petrificação de fregueses aumentasse com isso. Quem não se lembra do Restaurante do seu Luizinho “pé de porco”? Como o próprio apelido dizia “ele era capaz de fazer o melhor feijão com pé de porco do Vale do Paraíba”. Vale lembrar que o toque final disso tudo era da saudosa Dona Mercedes. Era sempre no domingo a noite que meu pai ia ao restaurante do Seu Luizinho para comprar o também famoso “Frango com Batata” que ele fazia. Era algo divino. Depois, a conotação em que o “Sanduíche de Pernil” do Bar do Ananias tomou era algo de paralelo muito próximo ao mágico. Diziam as más línguas que o segredo estava na frigideira do bar que o Nanias nunca lavava. Algo folclórico que v

Além luzes

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Foi a saída do último carro por ele vigiado naquela rua que fez com que o barulho das moedas em seu pequeno bolso fluíssem com mais força. Ele já tinha em mente o que compraria com elas. Não seria nenhum brinquedo. Mesmo porque, achava que estava “crescendo”. Todavia, este sentimento lhe tomava claramente, pois, era intimado pelo pai para ir à rua vigiar carros e ganhar algum trocado mísero. Isso parecia-lhe coisa de adulto. Contrariando a fome familiar eminente, foi direto a uma dessas lojas recheadas de artigos de natal. Aquele clima enchia-lhe os olhos. Assim ele foi direto naquilo que mais ansiava comprar: Um colorido pisca-pisca. Com certa consciência, dispensou a sacola plástica oferecida pelo balconista e foi pra casa. No caminho, janelas esculpiam o belo embaladas pelo clima do Natal. Pessoas apressadas caminhavam cheias de pacotes. Ele segurava forte o seu, pensando na felicidade de sua mãe ao se deparar com aquelas luzes clareando o breu da casa. Isso lhe tomava por inte

As forças do além

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Domingo nublado. Vou descendo então a rua do cemitério Santa Rita em direção ao Bar da Jane para assistir ao jogo do Corinthians. Quero esquecer que ali, há anos atrás, era um reduto especialmente de anti-corinthianos, visto que antigamente era o bar do saudoso sãopaulino João Donaldo. Era na ponta do balcão que também ficava secando o timão o falecido Dito Guará, palmeirense clássico nas curtições. Os jogos não passavam na televisão como hoje em dia. Era o rádio a fonte inesgotável de combustível do imponderável. Com a apreensão estampada no rosto, sigo acreditando que este ano meu time possa ser Pentacampeão do Brasil. Quando o jogo começa, recomeça o sofrimento. Pra gente é sempre assim. Vou me concentrando então em todas as possíveis ajudas que do além venham a dominar o destino da bola e jogá-la no fundo das redes adversárias. Penso em todos os meus amigos corinthianos que já partiram desta pra melhor e, numa espécie de transe espiritual, vou mentalizando baixinho o nome del

Onze, do onze, do onze...

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O celular desperta exatamente ás sete horas da manhã. Para os adeptos das ciências ocultas, pode indicar a ocorrência de eventos incomuns. Lá fora, já ouço minha mãe conversando com seu casal de garnisés. Numerólogos e esotéricos procuram sinais do que isto pode significar. No meu banho, afogo os vestígios de sonhos ruins. Alguns acreditam no início de uma nova harmonia no mundo. Sinto fome de rei ao deslocar a minha marmita da geladeira. Outros crêem na abertura de um portal para outra dimensão. Na saída, minha mãe me abençoa em silêncio enquanto meu amor ainda dorme. Há indícios de acontecer até mesmo uma revolução da consciência. O ônibus em frente ao portão do cemitério vai transgredir meu acordo com o dia. Centenas de aficionados pelas ciências ocultas planejam se reunir no dia de hoje para cerimônias e danças. Um pequeno longo percurso entre aqui e lá vai ser bordado pelo inconformismo do ponto final ter mudado de lugar. Médiuns e sacerdotes paranormais renomados comentarão sobre

As velhas inspirações das ruas

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Em 1998 eu era balconista de um bar badalado em Aparecida que ficava bem no começo da Rua Oliveira Braga: o Bar do Chopp, do meu camarada João Siri. Bar frequentado por gente bacana considerada “a nata” de Aparecida. Era todo o sábado que um grupo de moças muito bonitas se juntavam do outro lado da rua, em frente ao bar, pra ficar curtindo a noite. Umas já tomavam um chopinho, outras ainda não tinham idade pra tal. Num sábado assim, me deixei levar pelos encantos de uma moça linda que se encontrava por lá. Devo ter confundido alguma coisa, mas percebi alguns olhares dela pra mim sempre quando olhava naquela direção. Foi assim que eu acreditei na paquera. Impulsionado como sempre pelos versos escritos nos guardanapos de papel, recriei certa coragem e acabei mandando entregar um bilhete à garota com a seguinte frase: “A única distância que estraga, é a rua que nos separa nas calçadas da Oliveira Braga”... Minutos depois, o mesmo moleque que tinha ido entregar o papel, voltou me entregand

Os revoltosos

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Naquele dia ele fez tudo igual: -Saiu gritando pelo campus como todos os outros, sem ter muita certeza por qual razão. Era meio desligado de tudo mesmo. Estudante de história, na verdade queria mesmo era ficar colado numa garota que cursava medicina. Uma morena que arrastava seus pensamentos mais sacanas. Tinha que impressionar. Ia pegar pesado no protesto. Seria a deixa para poder se aproximar da musa. Todos tinham uma “causa”. Ele pensava numa “cauda”. Separou pedras e lançou-as vidraças afora. Estilhaços barulhentos de sua revolta. Foi neste instante em que ela lhe lançou um olhar como quem dizia “é um dos nossos”. Começou então a gritar ainda mais em meio a todos. Sentia que estava no caminho certo. Por sorte, ela não tinha seu rosto coberto. Podia assim apreciar ainda mais a beleza daquela “corajosa” mulher. Mas para ele, não importava tanto a PM ali ou não. Sempre foi um “quebrado”. Por conta disso nunca temeu assaltantes rondando o campus. Diferente de muitos que não estavam po

Os 84 anos de uma Lenda

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A sabedoria deste senhor sobre a arte da fotografia ainda está por ser mensurada. Seu conhecimento passa pelo alcance da inovação da tecnologia e vai além. Muito além... Num clássico exemplo, conseguiu se adaptar a toda essa tecnologia de hoje demonstrando uma grandeza pessoal incomum, envolvida na combinação também incomum de “ausência absoluta de arrogância” e “sensibilidade extraordinária”, onde com extrema habilidade conseguiu dominar um computador e seguir nesse seu oficio mágico de parar o tempo quando fotografa. Assim, pôde compreender a importância do que fazia e descortinar a grandeza e os efeitos disso. Munido de uma conduta meio “transcendental”, sua figura de retratista descreveu uma página histórica, onde ajudou junto de muitos outros “lambe-lambes” a expandir a devoção a Nossa Senhora Aparecida pelo mundo afora, imortalizando momentos de fé, confeccionando instantes belos na memória dos romeiros. Uma pessoa que se desdobra para preencher o presente feito de novos conhecim

"Santa ressaca"

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Era dia 1º de novembro, dia de todos os possíveis santos existentes por aí. Anos setenta, auge da liberdade psicodélica e dos embates contra o impregnado militarismo. Madrugadas subversivas tramadas nos subterrâneos da história em mesas de bar. Meu amigo Nivaldo já era um dos maiores violonistas da época. Conhecedor profundo de todas as manifestações da MPB. Seu aniversário era naquele dia 1º e depois de perambular pelo “Choppão” e pelo Bar do Nenê, foi parar mesmo no último escape da madrugada: o Ce Ki Sabe, que ficava ao lado da prefeitura, bem perto de sua casa ali na Rua Floriano Peixoto, ao lado do cemitério. Era a alegria que infestava os ares dali. Chico Buarque rolando solto na vitrola em canções consideradas verdadeiras “bolas por entre as pernas da ditadura” e que iam driblando a censura com suas letras subversivas escondidas entre metáforas poéticas. Lá pelas tantas, Nivaldo tomou do violão e evocou Vinicius de Moraes. Veio junto Caetano, Vandré, Gil. Alugou a madrugada embr