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Mostrando postagens de novembro, 2014

Liquidada

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Estive perambulando pelo centro comercial de Guaratinguetá. No vai e vem das pessoas pela praça, alguns assuntos em pauta: “Preciso ir até uma Lan House checar meus E-mails”... “Eu te aviso pelo Facebook”... “Adiciona meu WhatsApp”... Logo, os cartazes das promoções: “Tablet, Smartphone, Pen Drive”... Isso sem mencionar o Self Service, o Test Drive, o Insul Filme que eu já tinha lido pelo caminho. Neste dia, reparei que todas as lojas estendiam panos negros nas entradas. Pensei comigo: luto! Mas eu não sabia ainda quem havia morrido.   Comecei a ler então os cartazes nas vitrines e fachadas dos estabelecimentos que anunciavam a liquidação: "Black Friday", "30% Off"... Foi então que descobri: era a Língua Portuguesa que havia morrido. “E agora, quem poderá nos salvar?” Só uma Long Neck salva...

Esquecido

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Venho pela presente explicar que o passado não teria mesmo tanto futuro. Que não iria mesmo iluminar o amanhã já que o ontem tingiu aquele momento de escuro.

Imensidão

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Na cama se preserva o amor que o valha. Sono, saudades, sonhos, tudo. Nem às paredes se confessa aquilo que vê o criado mudo...

O Diário de Larissa

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Criança inventa cada coisa... A Larissa agora disse que quer voar bem alto pra poder pegar uma estrela pra mamãe. - Mas as estrelas só aparecem à noite menina. E a noite você está dormindo... Ela concordou e "encasquetou" que eu teria que ficar a noite toda acordado pra pegar uma estrela pra ela... Que sono! *** A mamãe me fez colocar um abajur novo no quarto da Larissa. Estava com medo do escuro e não queria que mamãe me contasse: É verdade Larissa, que você tem medo de dormir sozinha? Eu não papai.   Quem tem medo é você que dorme toda noite junto com a mamãe... Essa menina... vou te contar... *** - Papai, fiz um desenho tão bonito. Eu desenhei você e a mamãe... - É mesmo Larissa. Corre lá. Busque seu desenho que eu quero ver... - Eu não consigo trazer a parede até aqui papai... *** A Larissa chegou triste da escolinha. Fui ver o que tinha acontecido: - Ela está assim porque não foi escolhida a noiva da quadrilha da festa junina, disse mamãe.

O enterro

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Mãos postas sobre o peito. O que disseram é que foi de repente. Nem deu tempo de se despedir de ninguém. Aos poucos, a notícia deu vazão à tristeza e o local começou a se ocupar de gente. O burburinho comum dessas horas deu lugar ao rosário que uma beata começou a rezar em voz alta. O longo terço demorou uma eternidade. Uns olhavam sem acreditar. Outros choravam sem nem mesmo olhar. A imobilidade de uma faixa ante uma coroa de flores denunciava a tentativa vã de o impossível acontecer. A letargia do tempo nos ponteiros do relógio registrava o fracasso da vida. A chama das velas queimava como a saudade. Derretidas, escorriam feito as lembranças. E o padre, velho, refletia um semblante puro tentando iludir a razão e persuadir a atenção dos que permaneciam. O que doía era aquela expressão do nunca mais. O gosto amargo do pra sempre. E retirou-se do local como quem chefiava um féretro, carregado por mãos amigas. Como um último ato, foi capaz de brecar o trânsito e ce

O ciclo

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Depois de dez anos escrevendo em vários jornais e revistas e dois livros publicados, quero exaltar hoje a minha alegria, satisfação e honra pela publicação do meu texto intitulado “Os 130 anos da Imprensa Escrita em Aparecida” no Jornal O Aparecida, edição do dia 15 de novembro. Amparado pela confiança dos jornalistas Arthur Marques e Rogério Braga, tendo também a chancela do mago das artes gráficas, o poeta e também jornalista Marco Reis, pude enfim ter um texto meu publicado pela primeira vez neste periódico que completou 37 anos de existência. Ao ter essa grande oportunidade pude recriar minha responsabilidade. Pois, como já me disse muita gente por aí, “há peso no que escrevo”. Com muita humildade, absorvo cada frase e vou mudando muito para continuar sendo eu mesmo. Pois, não adianta ter a alcunha de escritor, ter mil palavras a dizer quando se tem um nó na garganta. É preciso estar preparado para se formar opinião.   Eternizar a nossa escrita fundamentada em ideias co

Incalculável

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Em tempos de tecnologia brutal, ainda me atento ao saudosismo. O homem moderno, por necessidade ou estética, vestiu-se de tecnologia, acoplando sua vida nessa necessidade. A fotografia elaborada com arte teve um suporte vitorioso naquela época de ouro dos retratistas lambe-lambe. A arte fotográfica resistiu e sobrou dentre impávidas maneiras de se comunicar através da sensibilidade, encarando o tempo cheio de apertos cotidianos. Reencontrada num ferro velho, a antiga máquina restaurou esse processo de eternizar. Com a chancela e o respaldo de uma história magnífica, embrenhei-me neste restauro e me apossei de um tempo. Ela permanece estática agora, decorando este espaço de vida. Parada, porém levitando entre as manobras do destino, da memória e das lembranças. Numa época onde tudo se apresenta escasso, ela, a velha máquina do tempo, imprime nessa liberdade de palavras, o encanto. Coisas que realmente não tem preço. Tudo que foi ficando pelo caminho menosp

O refém feliz da canção

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Me apossei de todos os LPs do meu saudoso pai por algum tempo, depois de sua passagem por este plano. Gostava de ficar ouvindo os ruídos sonoros que acompanhavam todos eles, principalmente Orlando Silva, Carlos Galhardo, Waldir Azevedo. Limpa daqui, abrem-se as comportas da vida. Muda tudo de lugar. Discos se perdem, arranham e quebram, como dizia Cazuza. E eles vieram com tudo pra cima da minha juventude: o rock progressivo nos programas “Ressonância” de domingo à tarde. Cazuza infernizando os ouvidos, impulsionando a letargia a gritar, espernear. Renato Russo trazia então a poesia casual. Amada simplesmente como canção que falava nossa língua. Suas letras constituíram crônicas de uma sociedade falida e consumida por vícios cotidianos dos quais muitos de nós só conseguimos nos libertar graças à ele e as denúncias da sua poesia perfeita. Bendita década de 80! O rock nacional andando pelas veias: Kid Abelha, Heróis, Plebe Rude, Lulu Santos, a explosão do RPM e eu não queria m

Restaurando almas

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Por conta de ter vivido quase toda sua vida embrenhado na arte da fotografia, meu saudoso pai Joaquim Dias uma vez me disse: "Acredito que o retratista tem de ter uma fidelidade canina quando algum romeiro o procura na praça para bater algumas chapas da família que vem n’Aparecida. E não pode ser de outra forma. Afinal, o retratista tem esse dom mágico de aprisionar a alma". Na prática quase comum de garimpar a memória fotográfica de Aparecida, eis que numa tarde, estou passando em frente a um ferro velho na Santa Rita quando por um estalo acabo perguntado ao Carlinhos, proprietário do local: -E aí Carlinhos, apareceu algum “caixote” por aí?... -Lúcio, você não acredita o que eu “apanhei” de uma senhora lá na Ponte Alta semana passada. Até me lembrei de você... Entre tanta tranqueira empilhada no espaço, pareceu que algo luminescente se destacava entre as coisas velhas.  Chegando mais perto, enquanto o Carlinhos tirava a poeira de um tempo, pude visualizar melh