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Mostrando postagens de 2014

Percepção de um tempo.

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Você percebe que é Natal quando as ausências começam realmente a pesar. E entre luzes que vão piscando incansavelmente, você encontra o brilho de um instante. Você começa a perceber que chegou o Natal quando qualquer barulho parece um som e quando cada som retrata uma canção. Seu pensamento procura abrigo no que é belo, seus olhos alcançam o impossível e sua percepção de felicidade acaba superando os momentos. É Natal quando o gosto pelas coisas simples se engrandece. E dentro deste tear de uma incansável inspiração, palavras emanam da alma luzente, versejando aquilo que passa imperceptível diante dos olhos. Você acredita que é Natal quando deixa de ver as dificuldades da vida e se supera. Quando esquece a distância e reencontra o que se faz distante. Quando as perdas, por elas só, inspiram e ensinam a valorizar. Quando estranhamente dividido pelas horas cotidianas, se lembra de um sorriso e pára um pouco de correr sem direção, desdenhando a insuficiência do tempo. Ah o

Os Apelidos Aparecidenses – Parte 1

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Filhinha Mais importante que resgatar a memória de um lugar é manter viva as fontes onde se pode encontrar este resgate e trazer do limbo do esquecimento inúmeros “ heróis populares” da Terra da Padroeira do Brasil, que com o passar dos anos, ajudaram a construir e a manter a riqueza do nosso cotidiano e da memória social do lugar. O resgate destes apelidos foi até onde minha memória conseguiu chegar, deixando de fora, despretensiosamente, alguns destes “heróis”. Mesmo assim, o reencontro foi muito além do que pensei que pudesse, descortinando um belo jogo de sílabas – por vezes um gostoso trava línguas – cujo seus criadores também ficaram esquecidos no tempo: Agapito, Anzol, Ado, Anjinho, Amendoim, Amor Divino, Alicate, Abobrinha, Antonio Queixinho, André Bruxo, Aqui Agora, Ai que ódio, Bi, Bil, Biá, Bié, Bizo, Béka, Buiú, Bogê, Bilo, Bina, Babú, Biti, Bozó, Bêsa, Bepi, Bibo, Bira, Boca, Bugê, Bijú, Bidú, Buda, Buia, Babá, Bibi, Bibil, Binda, Binho, Bolar, Brasa, Beni

Os Apelidos Aparecidenses – Parte 2

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João Sirí Apelido normalmente é uma coisa que ninguém gosta. Todos já tiveram algum nos tempos do colégio, mas a maioria se perde pelo tempo. Em quase todos os casos, o apelido fica quando a pessoa se sente incomodada ou atingida em cheio por ele. Em tempos de “bullying”, o apelido acabou se tornando um vilão. Mas notamos que muitas das pessoas “rebatizadas” em seus apelidos acabaram se incorporando de tal forma com a denominação que suas verdadeiras identidades corriam paralelas sendo usadas somente no cumprimento civil. Os apelidos mais populares em Aparecida atravessaram o tempo. Com eles, vinham antes os nomes ou parte deles numa nítida expressão que fosse capaz de “separar” um Zé de outro ou um João de outro João. Aqui, alguns apelidos que ainda fazem história e outros que ficaram na memória do lugar: Hitler, Hélio Bolinho, Henrique Tripa, il, ipê, ica, iê, ico, itu, iti, iéié, inhame, Índio do Brasil, Itaguaçú, Indião, Jóca, Juca, Japa, Jura, Jejeco, Ja

Os Apelidos Aparecidenses – Parte 3

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Zé Louquinho As cidades do interior se privilegiaram deste fenômeno fonético, que também pode ser considerado um acontecimento antropológico devido à compatibilidade cultural dos indivíduos, descrito sob uma linguagem simples e popular, preservando seu formato original e seu impacto na teoria da comunicação. Existem apelidos bem variados, pra todos os gostos: Raé, Rico, Reja, Ruço, Reizinho, Raminho, Rosinha, Robocop, Rei da Cocada, Ranhão, Ruela, Rato, Saravá, Saravazão, Soró, Sulí, Samuca, Simão Miné, Sansão, Smurf, Sabonete, Seriluia, Sabiguira, Sapinho, Sete Dedos, Sérgio Bolão, Sorvetinho, Tó, Tí , Tio, Tal, Tica, Tato, Têca, Teco, Tico, Tuta, Tita, Tóta, Tôta, Tuti, Téia, Téio, Tuca, Tuza, Teta, Taiá, Tune, Tado, Tifú, Tedo, Tabu, Totó, Tetê, Teté, Tatá, Tigun,  Ticão, Tição, Toiço, Tchan, Tom, Tino, Tinho, Tatau, Torto, Titica, Tcháia, Tarone, Taquinho, Tininho, Tiquinho, Tramelinha, Tovinha, Tézinho, Terrinha, Toquinho, Telefone, Tonho Sarro, Toninho Marvadeza, Tonin

Os personagens da vida da gente

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De vez em quando, faço do meu horário de almoço algo ainda mais sagrado quando atravesso o centro de Guará e entro na atmosfera peculiar do Mercadão. Lá no canto, à esquerda, tem um bar que vende comida caseira e vive lotado. Arranjar uma mesinha é uma nobre disputa. Às vezes, a gente se senta com algum desconhecido e acaba descortinando muitas histórias. Quase sempre, depois de saciar a barriga, a primeira coisa que faço é parar na banca do Sr. Adolfo que vende além de revistas e livros velhos, bananas. E fico ali fuçando os livros poeirentos que ele comercializa. Por vezes, sempre encontro algo interessante. Seu Adolfo veio de Minas Gerais para Guaratinguetá ainda garoto. Ali no mercado municipal seu Adolfo está nada mais nada menos que 58 anos. Uma vida toda. O último livro que peguei hoje com ele é um intitulado “ Os Escritores de Guaratinguetá ”, numa seleção de textos feita por Moacyr Limongi sobre Brito Broca, Francisco de Assis Barbosa e Homero Senna. Há algumas sem

Além, mais além...

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Dias desses, minha mãe nos arautos dos seus 77 anos, me confessou ao pé do ouvido que queria comprar um celular. “E eu quero um celular deste de última geração, que tem até Internet ”, disse-me mamãe. Ao me deslocar para aquele diálogo com mais atenção, ela lamentou-me ainda: “Mas eu não sei mexer nessas modernidades”... “Um celular desses mãe com Internet é um pouco complicado mesmo de mexer. Mas a Internet é uma coisa fabulosa. A gente pode ir a qualquer lugar do mundo por ela”... E ela pôs-se a pensar naquilo trancada num ensurdecedor silêncio. Mamãe, por conta da artrose em um dos seus joelhos, quase não sai mais de casa. Fica por ali mesmo, de lá pra cá, escorando na vida e cuidando dos seus garnizés e da casa. Passa quase todo dia sentada ao portão debruçada sobre um tempo, apreciando o bailar do cotidiano. No mesmo dia, eis que levo até ela a menina Larissa, que nos seus quase onze meses de vida, já ensaia uns passinhos. Conversávamos distraídos observando Larissa

Liquidada

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Estive perambulando pelo centro comercial de Guaratinguetá. No vai e vem das pessoas pela praça, alguns assuntos em pauta: “Preciso ir até uma Lan House checar meus E-mails”... “Eu te aviso pelo Facebook”... “Adiciona meu WhatsApp”... Logo, os cartazes das promoções: “Tablet, Smartphone, Pen Drive”... Isso sem mencionar o Self Service, o Test Drive, o Insul Filme que eu já tinha lido pelo caminho. Neste dia, reparei que todas as lojas estendiam panos negros nas entradas. Pensei comigo: luto! Mas eu não sabia ainda quem havia morrido.   Comecei a ler então os cartazes nas vitrines e fachadas dos estabelecimentos que anunciavam a liquidação: "Black Friday", "30% Off"... Foi então que descobri: era a Língua Portuguesa que havia morrido. “E agora, quem poderá nos salvar?” Só uma Long Neck salva...

Esquecido

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Venho pela presente explicar que o passado não teria mesmo tanto futuro. Que não iria mesmo iluminar o amanhã já que o ontem tingiu aquele momento de escuro.

Imensidão

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Na cama se preserva o amor que o valha. Sono, saudades, sonhos, tudo. Nem às paredes se confessa aquilo que vê o criado mudo...

O Diário de Larissa

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Criança inventa cada coisa... A Larissa agora disse que quer voar bem alto pra poder pegar uma estrela pra mamãe. - Mas as estrelas só aparecem à noite menina. E a noite você está dormindo... Ela concordou e "encasquetou" que eu teria que ficar a noite toda acordado pra pegar uma estrela pra ela... Que sono! *** A mamãe me fez colocar um abajur novo no quarto da Larissa. Estava com medo do escuro e não queria que mamãe me contasse: É verdade Larissa, que você tem medo de dormir sozinha? Eu não papai.   Quem tem medo é você que dorme toda noite junto com a mamãe... Essa menina... vou te contar... *** - Papai, fiz um desenho tão bonito. Eu desenhei você e a mamãe... - É mesmo Larissa. Corre lá. Busque seu desenho que eu quero ver... - Eu não consigo trazer a parede até aqui papai... *** A Larissa chegou triste da escolinha. Fui ver o que tinha acontecido: - Ela está assim porque não foi escolhida a noiva da quadrilha da festa junina, disse mamãe.

O enterro

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Mãos postas sobre o peito. O que disseram é que foi de repente. Nem deu tempo de se despedir de ninguém. Aos poucos, a notícia deu vazão à tristeza e o local começou a se ocupar de gente. O burburinho comum dessas horas deu lugar ao rosário que uma beata começou a rezar em voz alta. O longo terço demorou uma eternidade. Uns olhavam sem acreditar. Outros choravam sem nem mesmo olhar. A imobilidade de uma faixa ante uma coroa de flores denunciava a tentativa vã de o impossível acontecer. A letargia do tempo nos ponteiros do relógio registrava o fracasso da vida. A chama das velas queimava como a saudade. Derretidas, escorriam feito as lembranças. E o padre, velho, refletia um semblante puro tentando iludir a razão e persuadir a atenção dos que permaneciam. O que doía era aquela expressão do nunca mais. O gosto amargo do pra sempre. E retirou-se do local como quem chefiava um féretro, carregado por mãos amigas. Como um último ato, foi capaz de brecar o trânsito e ce

O ciclo

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Depois de dez anos escrevendo em vários jornais e revistas e dois livros publicados, quero exaltar hoje a minha alegria, satisfação e honra pela publicação do meu texto intitulado “Os 130 anos da Imprensa Escrita em Aparecida” no Jornal O Aparecida, edição do dia 15 de novembro. Amparado pela confiança dos jornalistas Arthur Marques e Rogério Braga, tendo também a chancela do mago das artes gráficas, o poeta e também jornalista Marco Reis, pude enfim ter um texto meu publicado pela primeira vez neste periódico que completou 37 anos de existência. Ao ter essa grande oportunidade pude recriar minha responsabilidade. Pois, como já me disse muita gente por aí, “há peso no que escrevo”. Com muita humildade, absorvo cada frase e vou mudando muito para continuar sendo eu mesmo. Pois, não adianta ter a alcunha de escritor, ter mil palavras a dizer quando se tem um nó na garganta. É preciso estar preparado para se formar opinião.   Eternizar a nossa escrita fundamentada em ideias co

Incalculável

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Em tempos de tecnologia brutal, ainda me atento ao saudosismo. O homem moderno, por necessidade ou estética, vestiu-se de tecnologia, acoplando sua vida nessa necessidade. A fotografia elaborada com arte teve um suporte vitorioso naquela época de ouro dos retratistas lambe-lambe. A arte fotográfica resistiu e sobrou dentre impávidas maneiras de se comunicar através da sensibilidade, encarando o tempo cheio de apertos cotidianos. Reencontrada num ferro velho, a antiga máquina restaurou esse processo de eternizar. Com a chancela e o respaldo de uma história magnífica, embrenhei-me neste restauro e me apossei de um tempo. Ela permanece estática agora, decorando este espaço de vida. Parada, porém levitando entre as manobras do destino, da memória e das lembranças. Numa época onde tudo se apresenta escasso, ela, a velha máquina do tempo, imprime nessa liberdade de palavras, o encanto. Coisas que realmente não tem preço. Tudo que foi ficando pelo caminho menosp

O refém feliz da canção

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Me apossei de todos os LPs do meu saudoso pai por algum tempo, depois de sua passagem por este plano. Gostava de ficar ouvindo os ruídos sonoros que acompanhavam todos eles, principalmente Orlando Silva, Carlos Galhardo, Waldir Azevedo. Limpa daqui, abrem-se as comportas da vida. Muda tudo de lugar. Discos se perdem, arranham e quebram, como dizia Cazuza. E eles vieram com tudo pra cima da minha juventude: o rock progressivo nos programas “Ressonância” de domingo à tarde. Cazuza infernizando os ouvidos, impulsionando a letargia a gritar, espernear. Renato Russo trazia então a poesia casual. Amada simplesmente como canção que falava nossa língua. Suas letras constituíram crônicas de uma sociedade falida e consumida por vícios cotidianos dos quais muitos de nós só conseguimos nos libertar graças à ele e as denúncias da sua poesia perfeita. Bendita década de 80! O rock nacional andando pelas veias: Kid Abelha, Heróis, Plebe Rude, Lulu Santos, a explosão do RPM e eu não queria m

Restaurando almas

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Por conta de ter vivido quase toda sua vida embrenhado na arte da fotografia, meu saudoso pai Joaquim Dias uma vez me disse: "Acredito que o retratista tem de ter uma fidelidade canina quando algum romeiro o procura na praça para bater algumas chapas da família que vem n’Aparecida. E não pode ser de outra forma. Afinal, o retratista tem esse dom mágico de aprisionar a alma". Na prática quase comum de garimpar a memória fotográfica de Aparecida, eis que numa tarde, estou passando em frente a um ferro velho na Santa Rita quando por um estalo acabo perguntado ao Carlinhos, proprietário do local: -E aí Carlinhos, apareceu algum “caixote” por aí?... -Lúcio, você não acredita o que eu “apanhei” de uma senhora lá na Ponte Alta semana passada. Até me lembrei de você... Entre tanta tranqueira empilhada no espaço, pareceu que algo luminescente se destacava entre as coisas velhas.  Chegando mais perto, enquanto o Carlinhos tirava a poeira de um tempo, pude visualizar melh

Os 130 Anos da Imprensa Escrita em Aparecida - 1884/2014

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O primeiro jornal de que se tem notícia a circular na Terra da Padroeira do Brasil foi "O Horizonte" em 1884, numa época denominada como o auge dos jornais impressos. Desde então, em 130 anos de Imprensa Escrita em Aparecida, vários jornais outros puseram em evidência os fatos da nossa história em circulação. Uns tiveram vida efêmera. Outros, porém, tiveram longa duração destacando o Jornal Santuário que completou 114 anos, o Jornal Luz d'Apparecida que circulou por 47 anos entre 1895 e 1942, o Jornal O Aparecida que completou 37 anos de história e o Jornal O Lince, que lançado em 1969, teve um período inativo, e voltou em 2007 para completar este ano 45 anos. Nesse período é válido lembrar alguns nomes que se empenharam de corpo e alma dentro da imprensa escrita em Aparecida: Cônego Antonio Henriques que fundou em 1890 o Jornal Estrela de Apparecida e que mudou o nome em 1895 para Luz d’Apparecida . Cônego Henriques possuía gráfica própria onde também imprim

Referência do Livro Os Guardiões da Santa no Blog Conservação de Fotografia - Cássia Xavier

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É com extrema felicidade e honra que venho hoje reproduzir uma referência feita pela expert em fotografia Cássia Xavier sobre o meu livro “Os Guardiões da Santa” em seu blog Conservação de Fotografia (www.conservacaodefotografia.com.br ) que recordou no dia 12 de outubro, dia da Padroeira do Brasil, uma pequena parte da saga dos nossos Retratistas Lambe-lambe. Houve também por parte da amiga Cássia uma bela homenagem ao meu pai, o Retratista Joaquim Dias, o qual, mesmo depois de 15 anos, nos traz uma imensa saudade pela lacuna deixada com sua morte em 1999. Segue na íntegra a postagem da Cássia Xavier: Dia 12 de outubro - Dia de Nossa Senhora Aparecida "Os Guardiões da Santa” Histórias dos Retratistas Lambe-lambe de Aparecida Esse é o titulo do livro que relata histórias curiosas sobre "Os Guardiões da Santa", como eram chamados os fotógrafos Lambe-lambe da cidade de Aparecida. O livro relata histórias contadas por eles mesmos, que são muitas vez