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Mostrando postagens de dezembro, 2011

Um sorriso completo

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Estou sentado na recepção do sindicato onde trabalho numa manhã nublada e quente quando chega até a mim um senhor gordo, aparentando cansaço e suando muito. Deu-me um bom dia engasgado e, com uma folha de papel em mãos, perguntou-me onde era o consultório dentário: -Eu ‘vim’ moço por ordem da moça lá da associação do comércio. É que eu vou ser o Papai Noel este ano e preciso colocar uma dentadura urgente antes do Natal... A burocracia que envolve muitos segmentos por aí atrapalham e muito mais ainda quando o dentista que iria tratar do caso estava de férias. Questionamos isso sentindo as mãos atadas. Depois de algumas ligações, a moça da associação pediu pra dar o seguinte recado ao vulgo Papai Noel: -Peça que ele venha até aqui que vamos dar o endereço de outro dentista pra ele... Num certo tom de desabafo, Papai Noel então me decreta: -Amigo, desculpe eu estar te falando isso, mas já é o quarto dentista que me mandam ir e até agora nada de resolver esse ‘pobrema’. Pior é que eu não e

O valentão

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Ele era um garoto mau, desses que quando põe os pés no chão pela manhã o diabo pensa: “Putz, ele acordou”. Vivia o dia todo estragando as brincadeiras da criançada. Diante dele, todos pareciam fracos. Ele não era o dono da bola, mas era como se fosse. Um pouco mais forte e mais velho que os demais, chegava “rasgando” as canelas. Feliz quem estivesse no seu time. Infeliz de quem divergisse. Era temido até por certos adultos e destemido diante de tudo. Lembro-me com toda exatidão o dia em que ele pulou o muro do velho cemitério e voltou trazendo nas mãos um crânio. Isso mesmo, uma cabeça de caveira que ficou chutando pela rua como se fosse uma bola, rindo a valer com a peripécia. As meninas cortavam um dobrado com o tal que sempre vivia erguendo suas saias pondo à mostra tudo que não se pode mostrar. As guloseimas tinham que passar por sua inspeção. Ai de quem não desse “um téco” pra ele. Teria que correr muito ou ia comer “bicudas” pra valer. E o danado corria... meus Deus como corria.

Profetas do futebol

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Estão parados em frente a banca de jornal tentando achar notícias novas deste defasado país. Uma, a mais comentada, traz estampada em quase todos os diários a manchete: “Santos e Barcelona”. Título alusivo ao inédito confronto que decidirá o mundial de clubes no Japão. "Se Messi é de outro mundo, o Santos tem o Alan Kardec". Essas pérolas vem entre projeções e suposições não descartando a velha frase de que “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Uma conversa me chamou a atenção pelo teor profético e político que designou aquele embate: “Pela formação dos times, a tendência é o lateral Pará marcar o Messi. Será que o Pará consegue parar o Messi? Meu amigo, não haverá a necessidade nem de um plebiscito. O Messi vai 'partir' o Pará em três"...

O esplendor das manhãs

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Do meu quarto, mal vejo o dia clarear. Só sei dessa dádiva porque um casal de Sanhaços me avisa. Mais meia hora tentando cochilar e já é o momento de levantar pra encarar o dia. Eles dois não se desgrudam e cantam mesmo parecendo querer num rebento criar poesia logo cedo. O barulho do chuveiro e o rádio de pilhas afastam por um momento a sonoridade desses dois. Nessas alturas, em disputa com os ponteiros do relógio, o dia já está tomado por outros sons deixando o casal azulado encoberto. Na dieta da manhã me acompanham até a hora do almoço duas bananas. Mais abaixo, na rua, na calçada paralela ao muro do velho cemitério, um pé de acerolas banhado pelas nevoas da madrugada, instalam a rubra cor de seus frutos a alheios distintos. Eu, na pressa do instante, sou um desses, reforçando meu café. E lá também está o casal de sanhaços gulosos na refeição matinal. Ao me verem, esvoaçam assustados e pousam no fio acima. Com toda licença, enfio meus braços entre os arbustos em busca da mais sucul

Larápios (Republicando)

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Mamãe, Papai Noel realmente existe? Claro querido, existe sim. Ele é um velhinho bonachão, de barbas brancas e se veste de vermelho. Quando chega o Natal, ele voa de trenó por todos os lugares levando os presentes das crianças e entrando pela chaminé das casas. Acho que já lhe contei isso... Humm... Não me lembro. Mas minha irmã disse que o Papai Noel não existe nada. Ele é apenas uma pessoa que arranja um serviço extra nas lojas em época de Natal somente pra ganhar um dinheirinho. Lá mesmo na sua loja e do papai tem um, não tem? Tem sim querido. Sua irmã fala isso agora. Quando tinha a sua idade ela era a primeira a colocar as meias na janela esperando os presentes dele. Sabe mamãe aquele rapaz filho da Dona Esmeralda? Acho que ele saiu da cadeia e arranjou um emprego de Papai Noel em alguma loja. Como assim meu filho? Como você sabe disso? Eu vi mamãe... Só que ele estava com uma roupa bem diferente dessa que a senhora falou. Ele usava um macacão todo amarelo com alguns números no pe

Um doce e aquecido Natal

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OS ENFEITES: Natal era época de procurar um galho seco de árvore e gastar nele todo o pacote de algodão da gaveta. As bolinhas, luzentes e coloridas, eram geralmente compradas na Loja do Seu Arnaldo. Era simples e trabalhoso, mas ficava bonito. A RELIGIÃO: Meu Pai insistia em dizer que os presentes eram “dados pelo Papai do céu, não pelo Papai Noel”. Talvez seja por isso que desacredito naquele que voa em trenó e em toda mídia que se forma em torno dele e acredito muito mais no Papai do céu que na figura de menino fica esquecido na sua humilde manjedoura. AS AUSÊNCIAS: Meu avô já não estava mais por ali, arrastando seus chinelos pelo corredor. Minha avó já doía na lembrança e eu enfrentava a eternidade de um muro que me separava da solidão de ser eu. AS GULOSEIMAS: Na geladeira, os doces esperavam por nós. Pudim de pão amanhecido, arroz doce e manjar. Dava pra ver também algumas garrafas destinadas aos adultos. O forno do fogão estava sempre aquecido. Minha mãe passava o dia todo prepa

Energia de menino

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Um chamado de emergência vem sempre recheado de algumas surpresas. Era assim quando alguém pedia a ambulância no pronto atendimento da Santa Casa de Aparecida onde trabalhei. Precisamente num dia 25 de dezembro, uma mulher solicitou a ambulância que prontamente foi ver do que se tratava o caso. Alguns minutos depois eis que chagam ao P.A. a mulher e seu filho com a estória de que o garoto, correndo atrás de pipa por aí, acabou fincando uma tomada no calcanhar. Foi então que a mãe disse: "Meu filho disse que está com o pé machucado desde ás 4 da tarde. Criança você sabe como é, tem tanta energia que acaba se esquecendo do machucado. Agora que eu cheguei do meu serviço é que ele veio me mostrar"... O que eu não sabia é que no pé do garoto ainda estava fincada a tomada, com seus dois "plugs"afundados no calcanhar. Até que ele estava calmo e a mãe também. Afinal, ele estava com aquilo fincado no pé a mais ou menos umas 4 horas. A mãe só não gostou quando alguém falou br

A cara da administração

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Foi na tarde de hoje, dia 8 de dezembro que eu liguei para o Programa Januário Sanini da Rádio Clube de Guaratinguetá para fazer a denúncia do acúmulo de lixo onde se encontra restos de caixão, roupas de defuntos e panos usados em sepultamentos como fôrros de caixões jogados na calçada da Rua Floriano Peixoto em Aparecida. Os restos foram jogados por funcionários do Cemitério Santa Rita e já estão expostos há cinco dias, obstruindo a passagem pela calçada e colocando animais e moradores sob riscos biológicos. No mesmo instante em que eu estava ao telefone, o repórter/apresentador Januário Sanini tentou ligar para o DSM da prefeitura mas ninguém atendeu às ligações. Por e-mail, mandei as referidas fotos de mais um lamentável descaso por parte da administração municipal de Aparecida. E bem na semana que se comemora os 83 anos da Emancipação Político da cidade. Vamos ver se durante a semana "os caras de pau" irão dar cabo desta situação...

Histórias de um sagrado manto

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A camisa do Corinthians virou uma vitrine mundial para se colocar uma propaganda. Mesmo assim, a razão de vestir este manto, vai muito além que uma mera jogada de marketing. A partir da década de 1980, a publicidade estava liberada nas camisas de futebol, mas o Corinthians não conseguia encontrar patrocinadores. Era o período da Democracia Corintiana, e a camisa estampou nas costas a frase "Dia 15, vote!", embalado pelas eleições diretas para governador em 1982. A frase causou um “frisson” na sociedade, já que o Corínthians é um time historicamente de esquerda devido a sua fundação por parte de operários. Naquele mesmo ano, a empresa de material esportivo Topper exibia o seu logo no lado direito da camisa e, na final do Campeonato Paulista, contra o São Paulo, exibiu nas costas - como exigia a legislação da época - o patrocínio da Bombril. Assim, o Corinthians foi o primeiro clube brasileiro a estampar um patrocínio em seu uniforme de jogo. Em 1983, a Cofap foi a primeir

Catarse

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Por descuido do tempo, eu não vivi os dias amargos da fila corinthiana que acabou em 1977 com o gol do Basílio. Nascido em 1973, pude perceber a existência de um time chamado “Corinthians” apenas em 1979, com o time já campeão. Mas mesmo sem ter vivido aquela longa fila, costumo dizer que algumas derrotas entristeceram muito de lá pra cá. E foi justamente em uma derrota para o São Paulo antes das finais do campeonato paulista de 1982 que me vi como corinthiano de verdade. A queda para a segunda divisão em 2007 foi para a minha geração o ponto alto deste sofrimento. Nem as batalhas contra o Palmeiras nas Libertadores de 1999 e 2000 onde saímos derrotados doeu tanto. Ironia? Não. Porque com o passar do tempo, o torcedor corinthiano incorporou o rótulo de “sofredor” cantando e agradecendo a Deus por isso. O sofrimento tem a astúcia de nos levar além. Algumas derrotas, desenhadas pelo silencioso plágio da vida designado destino, firmaram com a identidade corinthiana um aspecto evolu

Adeus Doutor!

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Era um diferenciado. Craque dentro de campo e melhor ainda fora dele. Símbolo de liberdade, Sócrates foi o líder da “Democracia Corinthiana” que revolucionou o futebol. Dizia que o Corinthians era mesmo um símbolo de brasilidade. Pelas eleições diretas para presidente Sócrates subiu em palanque dizendo que “queria mudar seu país”. Os olhos de todo mundo se direcionavam para seus brilhantes toques de calcanhar, sua marca absoluta. Foi assim que começou a usar tornozeleiras amarelas. Braços estendidos, punhos cerrados. Era assim que comemorava seus gols. Era tudo numa espécie de protesto ante a repressão política que imperava na época. Em 1984, num dos comícios das “diretas já”, o Doutor da bola bradou para milhares de pessoas que “se houvessem eleições diretas para presidente, ele não deixaria seu país”. A emenda do Deputado Dante de Oliveira não foi aprovada, e o craque se transferiu para a Itália para jogar na Fiorentina, onde ficou por pouco tempo. Polêmico, entusiasta, revolu

Sonhos

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As nuvens carregadas daquele céu de domingo não tinha dado brechas para o dia esboçar nenhum raio de sol. Não havia dormido direito pensando naquele dia importante. Acendi um cigarro e, no meio das baforadas, li de relance as manchetes dos jornais na banca. Não tirava a decisão da cabeça. Entrei no buteco costumeiro e pedi um café dando uma última tragada no bendito. Olho de repente e, no fundo do bar, quase na penumbra daquele dia carrancudo, um cara tomava uma cerveja logo pela manhã. Tive a nítida impressão de que o conhecia de algum lugar. Voltei para o meu café namorando um pastel na vitrine. Com tantas fisionomias na mente, lembrei-me dele e levei o maior susto: Era o Tite, treinador do Corinthians. O dono do bar, que lavava alguns copos na pia, respondeu minha pergunta antes de ser feita: “É ele mesmo. É o Tite.” Tentei reagir com naturalidade a presença dele por ali. Pensava aflito qual seria minha resposta se ele viesse em minha direção e me perguntasse: “Amigo, Mor