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Mostrando postagens de junho, 2011

Despacho.

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Morar na rua vizinha ao velho cemitério Santa Rita proporciona momentos eternos dignos de documentário. Um privilégio que a memória redesenha por anos perpetuando o imaginário como forma sublime de rotular a saudade de um tempo. A movimentação naquela manhã afetou o cotidiano com impacto. Também pudera: bem no pequeno portão que dava passagem aos restos que vinham do cemitério, uma senhora mulata, toda vestida de branco, espalhava pela calçada em frente seus apetrechos totalmente alheia ao burburinho de quem passava. Alguns, atrasados para a expansão de suas necessidades, olhavam atônitos o desenrolar da velha senhora diante de seu oficio incomum para àquela hora da manhã. Velhas beatas, espiando pelas janelas, repetiam solenemente o sinal da cruz diante daquela cena. Uma delas debruçou-se ao parapeito colocando uma imagem de santo para que o gesso abençoado protegesse a casa de alguma forma. A fumaça dos charutos espalhados pelo chão subia ao céu sem nenhuma culpa indiferente às palav

Flores para Bernadete.

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Ela na verdade não gostava de flores. Achava-as bonitas, mas tinha náuseas ao sentir seu cheiro. Flores para ela tinham mesmo um "cheiro de morte". Foi então que lhe escrevi pela manhã um bilhete e, antes de ganhar o frio da rua, grudei-o na geladeira: "Por total ausência de flores, mando-lhe estes versos de cores. Mas, não se perca poesia minha nas perfumadas pétalas linhas deste improvisado bouquet poema" Desde então ela passou a adorar o cheiro desta minha pobre poesia...

Minúcias Poéticas | Por Wilson Gorj

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Uma das missões do escritor é a de ser porta-voz de sua gente. É sua função traduzir pensamentos e sentimentos cifrados, clarear os meandros da vida e esclarecer a confusão do seu tempo. Ter coragem para dizer aquilo que muitos preferem calar. Ser o olhar atento para tudo que o rodeia; a palavra para aqueles que não a tem. Ao escritor cabe apontar novos caminhos, denunciar as injustiças, explicar o mundo. Seu ofício é quase um sacerdócio. Lúcio Mauro Dias vem cumprindo com mérito essa tarefa. Seus textos sabem resgatar a história, destacar o cotidiano e a realidade ao seu redor. Sabem ainda homenagear ou projetar uma atenção carinhosa às figuras relevantes e até mesmo pitorescas com as quais cruzamos pelas ruas de nossa cidade. Assim é o colunista Lúcio Mauro, cujas crônicas já são bem conhecidas dos que acompanham os jornais da nossa região. O Lúcio contista, vencedor do concurso “Aconteceu em Aparecida”, também é um conhecido do leitor aparecidense. Falta agora tornar público o Lúcio

O craque.

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“Está bem querida, amanhã eu acordo mais cedo e começo isso”... Foi assim que Ricardo tentou acabar com o assunto depois que sua esposa Carmem começou a pegar no seu pé para ele dar umas caminhadas matinais e se exercitar. Ele tinha se aposentado há pouco. Mas a falta de exercício já era antiga. O sedentarismo fez com que ganhasse alguns pesos a mais. A enorme barriga era o sinal perfeito da sua preguiça. Ela também mudara alguns hábitos. Não porque quisera, mas por encontrar certa resistência nele. Ela adorava lhe escrever bilhetinhos românticos que o “casca grossa” do marido ignorava. Hábito que foi ficando pra trás. Naquela noite ela queria mesmo era matar a saudade do marido. Ele, mesmo sendo sempre fiel, parecia não se importar mais com suas responsabilidades na cama. Carmem tentava contornar o assunto provocando o marido de várias formas, desde peças intimas provocantes até perfumes considerados afrodisíacos. Nada lhe chamava a atenção. Na noite em que fizera a promessa de levant

Os acordes eternos da Aurora Aparecidense.

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Depois de beirar a extinção por descuido do tempo e dos homens,no dia 04 de junho último, dia frio, na chácara do professor Alexandre Lourenço, Bairro do Pedro Leme, em Roseira, os acordes da Corporação Musical Aurora Aparecidense conseguiram acessar o âmago dos corações presentes que também puderam resgatar na essência da memória momentos marcantes e pessoas inesquecíveis. Depois da apresentação feita pelo amigo Tadeu Fonseca, ilustrando parte história da mágica corporação, a retreta iluminou e estendeu a alegria no recinto, escrevendo em pura preciosidade um trecho dessa vida que irá completar em julho 125 anos de existência quando começou a tocar o dobrado "Dois Corações", de Pedro Salgado. Compareceram na apresentação o professor e jornalista Alexandre Lourenço, o historiador e jornalista Benedicto Lourenço Barbosa, também responsável pelas expressivas iguarias do seleto cardápio do dia, o jornalista Reinaldo Cabral, o poeta e jornalista Marco Reis, o escritor Wilson Gorj

O amadurecimento do quase.

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Trocar o fanatismo pela paixão. Isso aconteceu comigo. Embora sabedor que muitos de meus colegas corinthianos terão a vontade de me “esganar”, eu torço mesmo querendo enterrar mitos e bobagens, confrontos e apelações que não levam a nada assim como a fúria de alguns torcedores protestando contra a nova camisa grená. Diante dessas coisas corriqueiras, já como um mero aprendiz de escritor que se inicia nessa empreita em ser jornalista, pergunto: como não se encantar com o time do Santos e com a magia do moleque Neymar? Libero este meu particular encanto ignorando velhos paradoxos futebolísticos. Coisas que o fanatismo de muitos colegas desenha implacáveis, algo repugnante que cerca mentes pequenas. Longe de mim, escritor menor, querer impor qualquer dinamismo intelectual. Mas foi-se o tempo onde apreciar um futebol bonito era crime. Antes, pobre de mim, era impossível associar qualquer conquista alheia a uma soberba satisfação onde eu poderia escrever uma crônica. Isso, como todos vê

Quebrando o tabu.

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Desde quando era jovem, Joel gostava de fumar um baseado escondido pra ficar mais à vontade nas rodas de amigos, baladas e diversões. Dizia sempre que “era pra espairecer” o dia a dia. Mudou-se de sua cidadezinha quando passou num concurso do Banco do Brasil. Mas preso em suas raízes, Joel sempre voltava para sua terrinha, principalmente quando tinha um feriado prolongado. Tinha orgulho de dizer que foi um dos principais fundadores do Cannabis F.C., um time que reunia a nata dos malucos do seu bairro. Durante muito tempo, o Cannabis foi imbatível, chegando a ficar quase cinco anos invicto na redondeza. Dizem as más línguas que o time nunca se profissionalizou por medo do antidoping que poderia numa dessas ocasiões suspender o time todo. Depois de quase dez anos sem voltar pra sua cidade natal, Joel acabou por decidir em passar suas férias por lá. No bar mais tradicional da praça central, Joel encontrou os antigos amigos e, em meio à cervejada, teve a triste noticia que o Cannabis