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Mostrando postagens de julho, 2015

As controvérsias de um estado laico

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...E sou cercado por um daqueles evangélicos de terno que carrega a bíblia surrada debaixo do braço me fazendo referência ao novo templo de Deus que seria inaugurado em alguns dias. Tentou me envolver com suas pregações e foi me entregando um panfleto que continha alguns salmos. Fui sucinto ao lhe informar que minha religião não era a dele. Ele questionou tentando me arrebatar dizendo ser um erro algumas pessoas ainda se prostrarem aos pés de imagens simplesmente feitas de gesso, colaborando com a heresia. Falou, falou, falou... Ao fim dessa investida, agradeceu-me a atenção. E antes de partir pra sua missão de juntar ovelhas, disse que o endereço do tal ministério estava ao pé do panfleto, caso eu mudasse de ideia e quisesse comparecer no culto inaugural. E lá estava escrito: Ministério da Semente de Deus Avenida Padroeira do Brasil 13 Bairro de São Roque (Ao lado do Mercadinho São José)...

O chifre

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Por conta de minha filha Larissa estar tendo febre há uns três dias, uma tia de minha esposa, em conversa por telefone, foi sucinta em seu comentário: “Essa menina está assustada ou aguada por alguma coisa”... De fato, em duas idas ao pronto socorro, os pediatras não conseguiram detectar nenhum problema mais grave. Não era garganta, ouvido ou algum dentinho nascendo, o que estava causando estranheza pela febre decorrente. Além de dar o “diagnóstico”, a tia foi logo dizendo o “antídoto” para a cura: chá de hortelã com raspas de chifre de carneiro. Vivi entre as crendices populares típicas de cidades do interior. Convivi com todos os meus avós e minha mãe, nos arautos dos seus 78 anos, ainda prega essa cultura popular de usar plantas e métodos pouco convencionais para curar algum mal. Assim sendo, mesmo cético para algumas coisas na vida, lá fui eu tentar encontrar o tal chifre... Não me aventurei em outro lugar sem antes passar pelo mercadão de Guaratinguetá. A minha intui

Prólogo

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Tudo na vida tem um começo, um meio e um fim. Um dia ainda sentirei muita saudade de mim.

Pernas pra que te quero!

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Eu tinha acabado de assumir meu plantão no posto de recepcionista do Pronto Socorro da Santa Casa de Aparecida. Eram quase oito e meia da noite quando uma irmã religiosa que também trabalhava por lá solicitou pelo ramal minha presença no centro cirúrgico. Lá chegando, me deparei com uma caixa de papelão num canto do setor e a ordem da freira: -Por favor, preciso que você leve esta caixa para o necrotério pra mim... Já há algum tempo trabalhando na Santa Casa, tinha ouvido inúmeras histórias sobre o lugar que sempre aguçava a minha imaginação, fazendo com que sombras esculpissem vultos instigantes no famoso necrotério. Eu desconhecia o conteúdo da caixa até o instante em que, já no corredor das alas, a freira detonou a informação que preferiria não saber: -Cuidado com esta caixa e com a perna amputada que está aí dentro viu... Aquilo em meus ouvidos soou como uma bomba. Não sabia se o dono daquela perna tinha morrido ou não. Se estava esperando por ela ou

Triste olhar

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Um romeiro que estava a passeio em Aparecida com a esposa tinha acertado a milhar na loteria numa extração que pagou ao sortudo alguns milhões de Cruzeiros. Na felicidade de estar tomando umas “biritas” no antigo Bar do Léga, o romeiro acabou deixando escapar que a sorte lhe foi generosa. No marasmo de pouco movimento durante os dias de semana, em questão de minutos, a “boa nova” se espalhou pelo largo da capela e logo uma meia dúzia de moleques engraxates estavam cercando o sortudo pela praça a fim de dar um lustre no “ Passo Doble ” do freguês. Arrastavam-se atrás dele feito pintinhos atrás da galinha. Os dias foram passando e o camarada foi ficando incomodado com a situação de ter que pagar pelo brilho no seu sapato toda vez que saía do Hotel Queiróz, onde estava hospedado. Era apontar o nariz para praça e lá vinham os engraxates lhe abordar. Isso se arrastou pela semana toda em que esteve pela cidade. No último dia da sua estadia em Aparecida ele sentiu certo alívio