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Mostrando postagens de 2016

Ratos no porão

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Foi numa manhã de pouco movimento na praça que um retratista ouviu o dono de uma pensão que ficava no largo da igreja velha reclamar para outro fotógrafo:   -Camarada, não sei mais o que eu faço... Está aparecendo tanto rato na minha pensão que o movimento lá só está definhando. E o pior é que têm aparecido umas ratazanas pretas enormes que minha muié tá morrendo de medo, assim como as empregadas que trabalham por lá... E lamentavam o caso até que o retratista entrou sem ser convidado no papo: -Olha companheiro, estava escutando sua conversa com o colega aí e não pude deixar de notar sua aflição. Lá na minha terra, lá pras bandas de Minas Gerais, quando acontece de aparecer essas ratazanas pretas nas casas, eles arranjam uns ratos brancos. O rato branco come todos os ratos pretos. É impressionante... E o dono da pensão ficou com aquilo na cabeça e tratou de arrumar alguns ratos brancos pra colocar na pensão antes do final de semana.   Passados dois dias, lá ve

Está faltando o Cartola...

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E eis que todo dia, sou surpreendido pelos mortais no cotidiano das ruas falando de “Cartola”. É o motorista do ônibus falando com o passageiro do “Cartola” que depois fala do “Cartola” com o cobrador. É o menino que fala do “Cartola” para o pai descendo a praça. A moça que passa apressada falando do “Cartola” ao celular sabe-se lá com quem. Fiquei surpreso que, mesmo depois de 36 anos de sua morte, as pessoas vem se lembrando do velho Cartola. Ah Cartola. Imortal Cartola... de “ cordas e nervos de aço ”. Em 2008, ano do Centenário do Cartola, Ruy Castro foi “ter” uma conversa com o maior parceiro do compositor, Elton Medeiros. Conversa que depois acabou virando matéria do Jornal O Globo na coluna dominical do jornalista. Numa entrevista pra lá de descontraída, Elton relembrou histórias ao lado de Cartola que mereciam um livro à parte. Falou da parceria, da poesia e do Zicartola , um bar freqüentado pela nata da cultura carioca na década de 60 “tocado” por Dona Zica e

O memorável “Bar Ca..."

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Há lugares que não acrescentam em nada. Há lugares mudos. Há lugares que nos mudam. Verdadeiros incômodos a cutucar aquilo que está lá, guardado. De repente, uma explosão de saudades. Extensa. Poética. Meu pai ia lá. Cansado, geralmente sexta-feira, não contente talvez em lançar a semana toda seu flash de magnésio sobre sus própria história, fazia o favor de beber suas imprudências que se diluíam dentro de um mágico copo de cerveja. Um queijo, saleiro. Palito a cutucar o sorriso. Rua Santa Rita. Anos 90. E ali fritavam o cotidiano regado a boas doses e múltiplas conversas. Nos momentos daquela espécie de conto, era possível encontrar um mero 3x4 amarelado na memória que logo, em traços, tornava o anônimo passado em uma magnífica importância. Era quando na semana, fixava-se no mural interminável de coisas o desenho ou o embate gramatical de pensamentos vomitados em palavras um pouco mais modernas que as mimeografadas. E passaram a viver esse gosto. Iam e voltavam pr

Pouco inspirado

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Careço. Mereço Peço. Faço. Que a cedilha rime essa armadilha com um abraço...

Carnaval com segurança

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Eu esperava pela Bernadete na rodoviária de Aparecida já respirando o clima do carnaval. Foi por volta das oito da noite que ela desembarcou, vinda de Guará: Linda, perfumada, mas reclamando de algo inusitado... Ela tinha ido ao Bairro de São Bento, em Guaratinguetá, resolver uns assuntos de trabalho. Na volta, no ponto do ônibus, notou um cidadão a encarando. Quando o ônibus chegou, com todos subindo, ela por último, sentiu uma “mão boba” passando em suas nádegas. A reação da menina foi instantânea: virou e deu um soco bem na fuça do engraçadinho, o mesmo que minutos antes estava a encarando. Foi só sangue que desceu do nariz do idiota. Vendo a cena, já dentro do ônibus, todos a parabenizaram pela ação, sem aqui querendo fazer apologia à violência. E foi de um dedo da sua mão direita que ela reclamava. Ele inchou devido à pancada desferida no delinquente.   E fomos parar no bar do saudoso Ditão, ali na Avenida Monumental. Nesse dia de folia estava tendo ali na avenida u

Um recado congelado no tempo (2º Lugar no XXVI Concurso de Contos da Biblioteca de Aparecida 2015)

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Eu andava pelas alamedas do velho cemitério Santa Rita tentando encontrar a o jazigo do lendário Simão Marcelino de Oliveira, vulgo Simão Miné. Era uma tarde nublada. Ouço o barulho de alguém varrendo o chão. Mais alguns passos e vejo um senhor negro de chapéu, fumando um inconfundível cigarro de palha cuja fumaça inundava o espaço. Ao me ver, ele parou de varrer e me cumprimentou: -Boa tarde! -Boa tarde meu senhor. Por gentileza estou fazendo um estudo para um jornal e gostaria de saber onde fica a sepultura do famoso Simão Miné. O senhor sabe em que quadra fica? -Sei sim. Mas fica lá na entrada do cemitéro. É uma das sipurtura mais antiga... -Me deixa tirar uma dúvida com o senhor... É verdade que o tal Simão Miné era dono dessas terras todas que formam o Bairro de Santa Rita? -Meu fio, o Simão Miné foi escravo lá pás banda de pinda. Ele foi trazido pra cá por um padre pra realizá serviço na igreja. Como ele era um nêgo ladino, não tardo muito ele começô a vendê água

Jogo da vida

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Dia desses, conversando com um amigo pelo WhatsApp, ele me deu a notícia de que uma amiga em comum, de seus 39 anos de idade, tinha acabado de falecer. Fiquei perplexo. Como uma moça tão jovem pôde sucumbir assim, de forma abrupta. Ficamos filosofando a partir disso por um bom tempo em mensagens. Logicamente, a situação acabou ficando cômica, onde nem eu, nem ele, conseguimos perder a chance de criar uma piada com os fatos. Passado uma semana, eis que sou avisado por outro amigo, também pelo o WhatsApp, que um grande companheiro de ideais e caminhadas, havia tido um mal súbito em pleno centro da cidade, falecendo em seguida. Tratei de, no mesmo instante, avisar aquele primeiro amigo do ocorrido, visto que ele também conhecia o finado de longa data. Lamúrias mútuas depois, emendei a primeira saída para o triste assunto: -Fulano, só sei de uma coisa, o placar de avisar um e outro quem morreu está 1 a 1... No que ele responde: -Deus me livre cara! Melhor esse jogo parar

Aparecida Antiga e os piratas virtuais

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A fotografia começou a ser usada pelos jornais diários em 1904 com um atraso de mais de vinte anos em relação às revistas ilustradas. Depois disso, o fotojornalismo começou a apresentar problemas éticos nas edições, cortes, manipulações e adulterações – inclusive montagens - mas nunca com tanta frequência como agora, resultados dos avanços tecnológicos, onde essa prática torna-se mais fácil e comum, interferindo na credibilidade da imagem. Foi em 2010 que tive a ideia de criar o blog APARECIDA ANTIGA (aparecidaantiga11.blogspot.com.br), onde, paulatinamente, venho postando imagens históricas de Aparecida para apreciação de todos, além de disponibilizá-las para Downloads para que qualquer pessoa possa montar seu próprio acervo de imagens e assim mostrar para as gerações futuras a memória fotográfica do lugar, num magnífico bailar atemporal. Blog que já conta com quase 80 mil acessos. Em 2012, essas imagens foram sendo publicadas mensalmente na extinta Revista Sinal Verde de Gua

A pressa do retratista

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O retratista Lipão, sempre que podia, gostava de fazer a feira para a patroa pensando em agradar a mulher e não levar bronca por às vezes ultrapassar o horário na mesa de baralho ou no balcão de um boteco qualquer depois do dia de labuta na praça. Numa sexta-feira de movimento onde acontecia o Mariápolis na cidade, ele prometeu passar na venda e comprar tudo o que faltava na dispensa. A patroa elaborou uma listinha com tudo que precisava e entregou ao apressado retratista. Preocupado com o movimento, ele subiu direto para a praça, esquecendo-se de passar no armazém. Foi de frente pra igreja que ele se lembrou... A praça fervilhando de gente, os colegas já batendo chapas e mais chapas, e ele pensando numa saída plausível em não atrasar as compras recomendadas pela patroa. Chamou um moleque que lavava chapas e entregou a lista pro menino com uma recomendação: -Serginho, corre lá, compra isso tudo da lista e entrega pra minha muié. E tem que ser rápido hein....Corre lá vai.

Os 95 Anos do Cemitério Santa Rita de Aparecida - 1921/2016 (Republicando)

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Em atas do ano de 1843 o vereador Padre Israel Pereira dos Santos Castro sugere a “ creação de um cemitério na freguesia d’Apparecida ”. A Prefeitura de Guaratinguetá compra então neste mesmo ano um terreno localizado atrás da igreja velha, na antiga Rua Major Martiniano, atual Rua Vereador Oswaldo Elache. Local onde depois se ergueu o convento das Irmãs Carlistas. Em 1852 o cemitério estava pronto e os sepultamentos deixaram de serem feitos na “Capella” ou em seu pátio.  Em janeiro de 1893 uma representação da mesa administradora da Capela de Aparecida pede a remoção do cemitério daquela localidade para outro lugar.   A existência do cemitério em Aparecida ainda é confirmada pelas atas de orçamentos fixados em 1908.   Em 1913 a direção da Basílica Velha comunica que pretendia dar outra finalidade ao terreno onde se localizava o cemitério. Os interessados que tivessem parentes ali enterrados deveriam agilizar o transladar dos mesmos para o “ cemitério novo ”. Em 1921 o c