Oferenda

Já haviam se passado oito dias desde o desaparecimento.
No entanto, ele não arredara os pés da praia. Vigiava aquela imensidão feito um cão de guarda.
As buscas seguiram o protocolo e se encerraram depois de um tempo.
Ele não entendia direito tudo que acontecera. Seu olhar perdido no horizonte denunciava seu desespero silencioso. Teria sido suicídio ou um mero acidente? Chegou a pensar até mesmo na hipótese improvável de outro amor marujo. Assim talvez ela ainda existisse em algum outro porto.
Mas a quimera daquele desterro a engoliu sem mostrar pra onde os olhos pudessem procurar. Uma direção qualquer que fosse capaz de destruir aquela incerteza. Um ponto distante que descrevesse o final de uma angustiante busca.
No segundo dia do mês de fevereiro ele resolveu então pedir auxilio...
Numa folha de papel eternizou alguns escritos esparsos para lançar ao mar:
“Eu fui por dentro a profundidade do mar e uma tímida concha por fora.
E de tanto rimar a mania de amar, acabei virando o inverso agora.
A pequena concha o mar levou embora. Quanta rima o amor jogou fora...
Mas dentro da concha, do oceano que era solto, prendeu-se o barulho do imenso mar revolto ”...
Ele deixou assim que as ondas levassem o papel junto de algumas rosas.
Seus olhos seguiram tudo em total harmonia com a maresia insistente.
Um ritual sublime que culminou na proposta para que Iemanjá pudesse lhe devolver sua mais linda oferenda, já perdida há alguns dias naquela vasta imensidão...
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