A Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida


Segundo o relato daquelas humildes pessoas, foram tantos peixes logo conseguido, depois de “aparecida” a imagem, que a canoa ficou cheia. Até ameaçava afundar. Alegraram-se muito com o ocorrido e foram levar o pescado à Câmara Municipal de Santo Antonio de Guaratinguetá, mas primeiro passaram pela casa de Felipe Pedroso e deixaram a preciosa encomenda confiada aos cuidados de Silvana da Rocha, mãe de João, esposa de Domingos e irmã de Felipe. Puseram-na dentro de um baú, enrolada em panos, separada uma parte da outra.
A casa de Silvana foi o primeiro oratório que teve aquela imagem e ficou com ela cerca de nove anos, até 1726, data provável de seu falecimento. Assim tornou-se herdeiro da imagem seu irmão, Felipe Pedroso, o único sobrevivente da milagrosa pescaria.
Sua casa foi o segundo oratório, por seis anos, perto da Ponte do Ribeirão do Sá (proximidade da atual Estação Ferroviária) e também o terceiro, por mais sete anos, na Ponte Alta, para onde se mudara. Em 1739, Felipe Pedroso mudou-se mais uma vez, já velho, para o Itaguaçú, e fez a entrega da imagem a seu filho Atanásio. Até então a imagem ficava dentro do baú, guardada, e só era tirada de lá nas horas das preces, quando era posta sobre uma mesa. Na casa de Atanásio Pedroso, que ficou sendo seu quarto oratório, ela passou a ter altar e oratório de madeira, feitos por ele. Chamava sempre parentes e amigos e com eles rezava o terço e entoava cânticos. O número de devotos começou a aumentar, alguns se sentiram favorecidos por graças e até por milagres, que apregoavam. A fama da Santa Aparecida foi crescendo e a notícia dos prodígios chegou aos ouvidos do vigário da Paróquia, Padre José Alves, que mandou seu sacristão, João Potiguara, assistir as rezas e observar. Baseado nas informações desse, e tendo ouvido outras pessoas, resolveu o vigário construir uma capelinha ao lado da casa de Atanásio, que, nessas alturas, estava morando no Porto Itaguaçú, onde a imagem fora encontrada.
Consta que o vigário quis levar a imagem para Guaratinguetá, levou-a por duas ou três vezes, mas o povo ia às escondidas e a trazia de volta. Depois corria a notícia de que a imagem fugira de volta para o bairro Itaguaçú.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida é feita de terracota, argila que foi modelada e queimada em forno, e mede 39 cm de altura. Pesa cerca de 4 quilos. Pode ter sido originalmente pintada, mas depois de ficar anos no leito do rio o material escureceu, adquirindo uma cor castanho dourada.
Conseguiu-se analisar a argila de que foi feita e constatou-se que se origina da região de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, mas a autoria da escultura é obscura. Sabe-se, porém que na época vivia em Santana do Parnaíba um monge beneditino escultor, Frei Agostinho de Jesus, cujo estilo é bem definido em outras esculturas: lábios sorridentes, covinha no queixo, flores em relevo nos cabelos e broche com perolas no cabelo. Todos estes detalhes existem na imagem aparecida do rio. Especialistas em arte barroca reconhecem nela o estilo seiscentista.
A cor de canela da escultura tem sido interpretada como um vínculo simbólico com a mistura racial da população brasileira.
Além de João Alves, Domingos Garcia e Felipe Pedroso, que acharam a imagem no rio, Silvana da Rocha Alves foi quem reuniu as duas partes da imagem com cera.
As duas partes da imagem foram definitivamente reunidas no ano de 1946, quando um especialista as uniu com um pino de ouro interno e completou o acabamento externo.
A estátua passou por uma destruição considerável em 1978, quando, num atentado, foi quebrada em 200 fragmentos.
Foi totalmente reconstituída pelas mãos da especialista em restauração do Museu de Arte de São Paulo, Maria Helena Chartuni, chamada pela Professora Zilda Ribeiro como “A quarta pescadora”. Para dar sustentação à cabeça destruída no atentado de 78, foram colocados cabelos longos na imagem originalmente de cabelos curtos.
No retorno da imagem para Aparecida um avião monomotor, que seguiu o cortejo que se arrastava pela Via Dutra desde Taubaté, acabou se chocando com fios de alta tensão por perto do trevo de acesso de Aparecida. Pouco se sabe sobre a identidade do piloto falecido no acidente. Poucas informações desencontradas relatam que ele era de Lorena e muito devoto da Santa Aparecida.
em 1980 o Papa João Paulo II sagrou a Nova Basílica de Nossa Senhora Aparecida e, na missa solene na esplanada principal da igreja, tomou a Imagem em suas mãos, quebrando o protocolo e abençoando o povo brasileiro, coisa que o Papa Bento XVI não fez em 2007.

Comentários

Unknown disse…
Sempre bom reler ... òtimo relato.

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