Rosas para São José.
Nos meus tempos de criança o Dia do Trabalho tinha algo a mais entre os moradores da Rua Floriano Peixoto. Todo dia 1º de maio um pequeno andor carregando a imagem de São José operário saía do Sindicato Papel e Papelão em direção a sua capela em procissão com os funcionários da antiga Fábrica de Papel. Era pela nossa rua que São José descia e mobilizava todo mundo naquele dia. As janelas eram todas decoradas com toalhas bordadas e vasos de flores para saudar aquele visitante ilustre que estava de passagem.
Depois do almoço as crianças então saíam em busca de ramos de plantas e galhos de árvores pela redondeza para assim decorar a rua. Na surdina, pulávamos o quintal da casa do Seu Dudú e, além de pegar alguns ramalhetes, aproveitávamos pra surrurpiar algumas laranjas. Os garotos mais velhos iam ainda mais longe buscar flores talvez surrupiadas em algum jardim pela cidade. As meninas eram responsáveis por decorar as calçadas onde ficavam as casas. Já os moleques eram incumbidos de colocar os arbustos fincados rente as guias da calçada do muro do cemitério. Com barbantes eram amarrados arbustos em todos os postes. Alguns moleques mais corajosos até pulavam o muro para surrupiar rosas dentro do cemitério. Era a única vez em que o Sêo Dito Coveiro não reclamava, pois sabia que as flores eram pro divino São José. Ás quatro da tarde, como de costume, descia então o andor com São José oprerário. Os adultos entoavam orações e seguiam a procissão. Alguns iam até a esquina com a Rua Santa Rita e voltavam cheios de graça e esperança. Os olhos de menino seguiam o santo até a hora em que o andor desaparecia dobrando a esquina da Rua Maestro Benedito Barreto. Todos voltavam correndo agora a procurar a bola de capotão e outros brinquedos. Mas as flores da decoração ainda ficariam intactas pelas calçadas da nossa rua até o cair da noite. No outro dia bem cedo as donas de casa, já nos afazeres da manhã, iam recolhendo os galhos secos e as flores que já estavam murchas. Desprendidos de sonhos infantis, ao acordar, íamos correndo ver se tudo ainda estava em seu devido lugar. Os adultos diziam que São José havia gostado tanto das nossas flores que depois da procissão ele tinha vindo buscar tudo pra decorar a casa dele. De tempo em tempo, a gente ia mais longe atrás das flores pra decorar a rua pra São José passar. Muitos foram e não voltaram. Eu fiquei até hoje por ali. Mas o andor de São José, depois que a Fábrica de Papel foi desativada junto do Sindicato, não mais desceu a Rua Floriano Peixoto como antigamente. A casa e o quintal do Sêo Dudú não existem mais. Sêo Dito Coveiro deve estar vigiando as rosas definitivamente lá dentro do cemitério. Elas cresceram e se despetalaram ao gosto do tempo. Mas em botões de saudade perfumam ainda a lembrança e o trajeto por onde meu divino São José descia, e que segundo os adultos, voltava de madrugada pra buscar as flores e abençoar toda nossa turma que dormia...
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