O centenário do maior poeta aparecidense.
Foi tirando a poeira de um tempo que encontrei José Afonso de Freitas e pude impregnar-me de seus versos como um ateu que descobre um “deus” e se agarra á ele cheio de arrependimento temendo que o inferno da anti-poesia venha apoderar-se do seu sentido humano pouco habitado e da sua razão literária muitas vezes pouco usada.
A poesia de “Seu” Freitas, breve e marcante mostrou-me em cada verso a maneira apurada de como Ele enraizava-se no seu cotidiano e se embrenhava em memórias como se tudo pudesse formar diante de seus olhos um só poema da vida toda de um homem que respondeu com extremo coração os apelos do mundo e de sua existência. Um poeta que acreditou sempre com o mesmo fervor na beleza da palavra elaborada com arte. E apoderado de uma liberdade absoluta, seus versos nunca fugiram a essência de sua própria natureza. Absorvido numa profundidade interior parecia escrever como tendo um legado, buscando a poesia que se revelava em coisas simples, sem muito se importar com postura literária impiedosa. Escrevia com a alma.
Homem de poucas palavras, mas de incomensurável poética. Poética a mover-se com a paciência do tempo. Sua fé inabalável por Nossa Senhora Aparecida transgrediu seu encantamento pela Santa.Transferiu com total magnitude a presença dessa devoção.
As memórias de José Afonso de Freitas, transformadas em poesia, destacou sempre a honra pela sua terra, seu orgulho pelos seus antepassados e pela luta comum do homem diante de um mundo caótico. A evocação à sua raça e seu povo está explicita também em versos.
A poesia então era a forma mais comum que o poeta José Afonso de Freitas obteve durante toda vida para gerar confiança na sua existência. Distinguiu-se pela originalidade.
Em seu único livro, “Aquém do lago azul”, publicado 1984, associou com observação precisa tudo que passava em sua volta com uma linguagem enxuta que ganhou peso e densidade em versos breves, mostrando-se um poeta lúcido e vigilante incluindo mesmo coisas supérfluas e todo sentimentalismo onde parecia entender que mesmo “as pedras da rua” poderiam fazer parte da sua poética. Inventou com maneira própria a articulação das palavras com imaginação plástica, rondada pelo silêncio e achando no “menos” o que muitos em vão buscam no “mais”. Seu livro me surgiu como um nobre alicerce num tempo onde eu começava a “reinar” com palavras e rimas. O ateu então se encontrou com o “deus” literário numa busca pelos caminhos que a poesia mostrou.
Completaria no dia 06 de junho de 2008 cem anos de vida nosso maior poeta aparecidense não tombasse o monumento em 29 de dezembro de 2004. Sua vasta poesia habita rondando ainda a antiga Rua do Pinhão, caminho glorificado para o Santo Cruzeiro. O cotidiano absorto do tempo é registrado ainda pela sua presença forte e transcendente na janela de sua casa.
É ali que nosso poeta centenário vive eternizado, mesmo estando fisicamente longe.
Parabéns ao maior poeta que a terra Aparecida já produziu.
Muita paz e muita luz.
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