Lendas.

Um dos meus maiores medos sempre foi perambular pela rua do cemitério durante à noite.
Quando criança, muitas vezes meu pai mandava comprar qualquer coisa lá no Armazém do Titica ou no Ganha Pouco. E a travessia da minha rua era algo interminável. Numa disparada, passava pelo pequeno portão do cemitério como um foguete.
Mais tarde, devido ao aumento de escorpiões, o velho muro de taipas do cemitério foi derrubado. Por partes, foi posto ao chão para se erguer um muro novo. Outro tempo de medo foi ter que passar à noite por ali, vindo das aulas lá do Solon Pereira. O vigia da obra conhecido como Pardal gostava de sair de repente do meio das sepulturas só pra assustar a galera que subia a rua.
As lendas que me colocavam medo diziam que, ao passar em frente ao portão principal do cemitério velho, o amigo Chiquinho Lorota se deparou com uma velha toda de preto em pé no ponto final do ônibus. Já meio calibrado pelas pingas, ele não se conteve e foi perguntar pra velha se “ela não tinha medo de ficar ali sozinha de madrugada bem em frente ao cemitério?”
A lenda diz que a velha respondeu com uma voz rouca que “ quando ela era viva tinha medo sim” e desapareceu portão adentro...
Manquitolando de uma perna, o Chico Lorota só foi dar uma respirada quando já estava lá por perto da Passarela...

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