As ruínas da nossa história (01)


Pior do que as sombras que escurecem parte do patrimônio de um lugar é o descaso que deixa em ruínas e põe abaixo a História.
Um caso passado quase despercebido à época foi a demolição de um enorme casarão que ficava na antiga Praça Kennedy, local onde hoje acontece a feira livre. Segundo informações, este casarão era de propriedade da Fabrica de Papel Nossa Senhora Aparecida.
Outra cicatriz que também ficou foi a demolição da Casa dos Barretos, que ficava na Rua Barão do Rio Branco, símbolo de uma família de músicos e heróis. O museólogo César Maia, ainda teve a perspicácia em recolher, com familiares, duas maçanetas antigas de louça que hoje estão expostas no quase esquecido Museu José Luiz Pasin.
Há poucos dias, a notícia da iminente demolição do antigo prédio que há 88 anos abriga o conhecido Hotel Recreio, na Praça Nossa Senhora Aparecida, fez surgir uma dileta discussão sobre o Tombamento de alguns prédios históricos.
Num rápido, mas importante levantamento do amigo Renato Philippini, descobriu-se que, pelo CONDEPHAAT, existem apenas 3 tombamentos a nível estadual em Aparecida: A Imagem de Nossa Senhora, a Basílica Velha e o Prédio da Escola Chagas Pereira, quase centenário.
Houve um questionamento sobre a Estação Ferroviária. Renato Philippini também postou um link onde é possível saber que a Estação de Aparecida fazia parte do patrimônio da extinta RFFSA e ficou sob a responsabilidade do município através de um programa de destinação de patrimônio em apoio ao desenvolvimento local.
Na esfera federal, tendo como órgão o IPHAN, não existe nenhum tombamento relacionado ao nosso município. Renato ainda estuda sobre os tombamentos na esfera municipal.
Os ventos de demolição ainda não atingiram um antigo casarão, que ostenta o ano de sua construção – 1896 – e que fica na Rua Dr. Lycurgo Santos, a antiga Rua da Estação.
Na Rua Vereador Oswaldo Elache, antiga Rua Major Martiniano, resiste também a arquitetura do Palace Hotel, que ostenta a inscrição “1916 E.M.”. Nesse palacete, uma espécie de quartel das forças paulistas na Revolução de 1932, foi assinado o Armistício que colocou fim aos combates na frente norte. Outra informação esquecida nessa amnésia histórica de Aparecida, revelando que o desprezo pela memória persiste.
Resiste ainda a antiga casa da Família Azen, construído pelo avô do Sr. Fernando Rangel, Rachid Azen, na Rua Barão do Rio Branco. Na Rua Oliveira Braga se encontram a casa da Família Chagas Maciel, dos amigos Dora e Maurício e o Casarão da Família Braga. O antigo Hotel Globo, que fica atrás da Basílica Velha, também resiste, tendo a Família Marzano como a mais antiga a ser lembrada dessa propriedade.
Quando se tem uma decisão para uma obra sair, os órgãos técnicos, como o IPHAN, muitas vezes não conseguem impedir que ela vá adiante. Pouco resta do nosso Centro Histórico. Casarões foram demolidos deixando muita memória enterrada pra sempre. 
Ao manter a fachada do Hotel Recreio intacta, os responsáveis pelo novo empreendimento conseguirão preservar uma parte dessa história perdida.
A nossa inércia, aliada à incapacidade e inoperância da nossa municipalidade, sempre encontra a desculpa na palavra “progresso”.
Lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de trazê-las de volta.


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