O amadurecimento do quase.
Trocar o fanatismo pela paixão. Isso aconteceu comigo.
Embora sabedor que muitos de meus colegas corinthianos terão a vontade de me “esganar”, eu torço mesmo querendo enterrar mitos e bobagens, confrontos e apelações que não levam a nada assim como a fúria de alguns torcedores protestando contra a nova camisa grená.
Diante dessas coisas corriqueiras, já como um mero aprendiz de escritor que se inicia nessa empreita em ser jornalista, pergunto: como não se encantar com o time do Santos e com a magia do moleque Neymar? Libero este meu particular encanto ignorando velhos paradoxos futebolísticos. Coisas que o fanatismo de muitos colegas desenha implacáveis, algo repugnante que cerca mentes pequenas.
Longe de mim, escritor menor, querer impor qualquer dinamismo intelectual. Mas foi-se o tempo onde apreciar um futebol bonito era crime. Antes, pobre de mim, era impossível associar qualquer conquista alheia a uma soberba satisfação onde eu poderia escrever uma crônica. Isso, como todos vêem, já não me soa mais como um tabu.
O colunista Chico Sá da Folha escreveu que “triste de quem pensa que uma partida de futebol só começa quando o juiz apita”. O jogo em si começa na véspera, na noite mal dormida, no medo da derrota. Depois, o jogo se arrasta até pra depois do apito final. Em épocas passadas, na curtição desmedida dos outros torcedores, nas piadas prontas, no riso alheio. Hoje, com mensagens no celular, emails, Twiter e a internet em geral. O torcedor maduro então vai se despindo desses trapos e coloca a fase de entendimento em dia com as circunstâncias, pois não há nada a ser feito.
Prestes a conquistar o tricampeonato da Taça Libertadores, o Santos levanta então a velha e amarga lembrança que restaura a inconsolável pergunta: E o Corinthians, quando irá vencer a Libertadores? Mesmo alguns especialistas em futebol não conseguem compor nenhuma plausível resposta, até porque, o futebol encanta por isso, pelo improvável. Na pauta piadista, seria mais fácil “o mar secar”.
E dentro dessa angústia, os mais fanáticos sempre delimitam esse “descuido dos deuses” dizendo que “quando o Corínthians vencer a Libertadores, o torneio não vai valer mais nada”. Explico: pela metafórica identidade assumida de “time caseiro”, o “desdém” vai dizer: “a Libertadores não vale nada, pois até o curíntia já tem”...
Hoje o futebol é muito mais místico que realidade e faz a gente pressentir que algo se desenha no âmago do desconhecido e que será capaz de implodir esta angústia um dia. Vencer este torneio sul-americano seria como vencer o torneio início contra a Catanduvense ou o XV de Jaú. Um troféu a mais na galeria, um simbolismo do comum.
Mas por enquanto vamos deixar que nos cerquem tudo de irônico. Tudo que nos rotule de derrotados e sofredores, pejorativo que já assumimos.
O torcedor maduro é capaz de assimilar a suposta derrota e a extasiante vitória como se tudo fosse uma coisa só. De cerveja em cerveja, o que realmente vale é a festa.
Mesmo que os cotovelos, em total segredo, doam um pouquinho e em silêncio diante de quem faz a farra no momento...