Quebrando o tabu.
Desde quando era jovem, Joel gostava de fumar um baseado escondido pra ficar mais à vontade nas rodas de amigos, baladas e diversões. Dizia sempre que “era pra espairecer” o dia a dia.
Mudou-se de sua cidadezinha quando passou num concurso do Banco do Brasil. Mas preso em suas raízes, Joel sempre voltava para sua terrinha, principalmente quando tinha um feriado prolongado. Tinha orgulho de dizer que foi um dos principais fundadores do Cannabis F.C., um time que reunia a nata dos malucos do seu bairro.
Durante muito tempo, o Cannabis foi imbatível, chegando a ficar quase cinco anos invicto na redondeza. Dizem as más línguas que o time nunca se profissionalizou por medo do antidoping que poderia numa dessas ocasiões suspender o time todo.
Depois de quase dez anos sem voltar pra sua cidade natal, Joel acabou por decidir em passar suas férias por lá.
No bar mais tradicional da praça central, Joel encontrou os antigos amigos e, em meio à cervejada, teve a triste noticia que o Cannabis ia acabar. A razão desta despedida era simples: o time do Cannabis enfrentava a pior crise da sua história e não vencia um jogo na várzea há muito tempo. No seu histórico, desde sua fundação, o Cannabis nunca tinha perdido para o time do delegado da cidade, composto basicamente por policiais da ativa e aposentados. Só que esse tabu havia sido quebrado há quatro anos e desde então, o time de meganhas não perdeu mais.
Inconformado com tudo isso, Joel decidiu então propor um último duelo contra o time do delegado. Reunidos os jogadores, tudo ficou marcado então para o próximo sábado, no campo mais famoso do lugar.
Mas o Cannabis realmente não era mais o mesmo. A maioria dos jogadores era agora a turma da cerveja. Alguns poucos malucos que restaram já tinham constituído suas famílias e parado de basear a vida em fatos irreais.
Mas Joel não mudara tanto. Casou-se sim, mas vez ou outra dava lá seus “peguinhas” escondidos pra espairecer a cabeça. E naquele sábado não ia ser diferente...
Contagiado pela história daquele maldito tabu, Joel virou o cão dentro de campo. Empolgou-se tanto, que mesmo enfumaçado, cansou-se rápido, dando lugar a um garoto bem mais jovem que ele. O garoto, endiabrado com a bola nos pés, só não fez chover. Com três gols, todos no segundo tempo, o moleque deu a tão sonhada vitória ao Cannabis diante dos meganhas.
No bar central, em meio à comemoração, ficou decretado que o Cannabis F.C. não ia acabar. O time só se reuniria em ocasiões especiais e esporádicas e com a certeza de que não perderia mais nenhum jogo.
No banheiro do boteco que ficava no fundo do estabelecimento, Joel dava escondidas as últimas tragadas no seu baseado, quebrando a promessa feita à sua esposa de nunca mais fumar “unzinho” pra espairecer como sempre fez.
Mas o mais importante naquela hora era comemorar a quebra do tabu contra o time do delegado e evitar que o Cannabis F.C. não encerrasse suas atividades com uma derrota, manchando sua magnífica história...