Em grande estilo.


Adolfo era um engenheiro conhecido na pequena cidade de Sarapó. Fez escola os seus conhecimentos sobre arquitetura e engenharia, seu estilo futurista, contemporâneo, de requinte. Ousado e moderno.
Adolfo também sempre foi um boêmio. Gostava da farra, da madrugada. Foi por isso que seu primeiro casamento durou pouco. O necessário para ter um casal de filhos.
Hoje, mais experiente, tentava controlar sua diabetes e seu excesso de peso. Só não conseguia parar de fumar. De quarta-feira em diante não ficava sem tomar sua cerveja e adorava uma comida gordurosa. Já não caminhava mais a pé e, para ir à padaria, que ficava perto de sua casa, ia de carro. Um velho e requintado Corcel azul marinho, seu “xodó”.
Por tanto tempo de labuta, decidiu juntar sua papelada e dar entrada na aposentadoria. Mas, antes, tinha ganhado uma concorrência pública para a reforma e a ampliação do novo velório municipal. Na sala do prefeito, em meio aos concorrentes, disse em alta voz que “ele era o único a ter competência e capacidade de fazer aquela obra”. Isso seria seu último grande feito no papel de engenheiro e arquiteto.
As obras começaram no mês de agosto. Um projeto audacioso, moderno. Algo bem fora do comum para os moradores da pequena Sarapó. Uma obra que pôs a oposição em alerta, criticando aquilo que ia contra os princípios conservadores daquela sociedade. Dizia a oposição que “defunto” não carece de luxo”. Que “era preciso que o prefeito gastasse mais na saúde do município” que estava um caos. Coisas típicas de cidades do interior.
Em dois meses e meio a obra estava pronta. Tudo no prazo, sem super faturamento. Mesmo assim, Adolfo havia se desentendido com um desses opositores e entrado numa abrupta e ferrenha discussão sobre a obra. Ameaças, socos, ponta pés e o opositor prometera que se eleito fosse nas próximas eleições essa seria sua última obra realizada pela prefeitura.
Sentiu-se mal. No ambulatório, sua pressão alta acusou um stress. Era hora mesmo de se aposentar. Uma dor no peito fez com que o médico de plantão optasse por ele passar a noite em observação. Durante o dia, faria na cidade vizinha um eletro do coração para verificar se algo andava errado, já que o aparelho dali estava quebrado.
“Eu tenho que melhorar doutor. Não posso ficar fora da inauguração da minha última grande obra. Tenho que inaugurar aquilo amanhã doutor”...
Na madrugada que se seguiu o engenheiro teve um enfarte fulminante.
Como pedia aquela empreitada, ele inaugurou a principal obra de sua carreira em grande estilo.
Literalmente...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O chifre

Americanização

Os 90 anos do Cemitério Santa Rita em Aparecida