Onze, do onze, do onze...


O celular desperta exatamente ás sete horas da manhã.
Para os adeptos das ciências ocultas, pode indicar a ocorrência de eventos incomuns.
Lá fora, já ouço minha mãe conversando com seu casal de garnisés. Numerólogos e esotéricos procuram sinais do que isto pode significar.
No meu banho, afogo os vestígios de sonhos ruins.
Alguns acreditam no início de uma nova harmonia no mundo.
Sinto fome de rei ao deslocar a minha marmita da geladeira.
Outros crêem na abertura de um portal para outra dimensão.
Na saída, minha mãe me abençoa em silêncio enquanto meu amor ainda dorme.
Há indícios de acontecer até mesmo uma revolução da consciência.
O ônibus em frente ao portão do cemitério vai transgredir meu acordo com o dia.
Centenas de aficionados pelas ciências ocultas planejam se reunir no dia de hoje para cerimônias e danças.
Um pequeno longo percurso entre aqui e lá vai ser bordado pelo inconformismo do ponto final ter mudado de lugar.
Médiuns e sacerdotes paranormais renomados comentarão sobre a importância da sincronia do dia.
No real deste dia, a correria versátil do cotidiano vai fazer do tempo algo esquecido.
Alguns grupos irão aproveitar a ocasião para sentar em silêncio e meditar.
O dia vai chegar ao fim sem se importar tanto com minha importante presença.
A representação exploradora da metafísica do mundo se destacará em muitos estudos.
Eu conto os segundos pra voltar a montar esse quebra-cabeça.
Poderes paranormais criarão um canal de comunicação com o subconsciente.
Eu desço os degraus da expansão entre o flutuante e o asfalto capital que cobre o chão.
Todas as teorias “pseudocientíficas” serão exemplos perfeitos do viés de confirmação de hipóteses.
Uma certeza eu carrego: saudade.
A tendência de privilegiar a informação confirma as ideias pré-concebidas, sem levar em conta as que contradizem.
Num trago gelado, calculo a distância exata entre o que parece e o que é sabendo que, em casa, a vida me espera.
Caiu a noite feito uma bomba que não explodiu, mas que precisa urgentemente ser desarmada antes que o dia volte à tona com seu processo lento de nos ironizar...

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