As iguarias
Em tempos atrás, comer bem ainda era tabu. Era muito raro alguma lanchonete ou restaurante de renome ancorado na busca suprema de agradar com um toque de classe os mais apurados paladares.
Com o tempo, passaram a existir em Aparecida muitos bares e lanchonetes que inseriram no mercado iguarias distintas, fazendo que a petrificação de fregueses aumentasse com isso.
Quem não se lembra do Restaurante do seu Luizinho “pé de porco”? Como o próprio apelido dizia “ele era capaz de fazer o melhor feijão com pé de porco do Vale do Paraíba”. Vale lembrar que o toque final disso tudo era da saudosa Dona Mercedes. Era sempre no domingo a noite que meu pai ia ao restaurante do Seu Luizinho para comprar o também famoso “Frango com Batata” que ele fazia. Era algo divino.
Depois, a conotação em que o “Sanduíche de Pernil” do Bar do Ananias tomou era algo de paralelo muito próximo ao mágico. Diziam as más línguas que o segredo estava na frigideira do bar que o Nanias nunca lavava. Algo folclórico que virou uma lenda.
Lembro-me bem dos “Ovos Coloridos” que ficavam expostos na vitrine de salgados do Bar e Lanchonete “Tchan”. Os ovos eram algo misterioso que eu nunca soube como desvendar.
Falar da “Parmegianna” do Bar do João Donaldo é relembrar um passado de histórias impagáveis. Ninguém tem a idéia exata de quantas dessas parmegiannas eram feitas por noite. Muitos artistas, a maioria levados pelo vereador Wadê, saborearam o prato e sempre que podiam voltavam. Com o tempo, a Lanchonete Phumbika passou a oferecer uma parmegianna muito requintada. Mas nada comparável a famosa do Bar do João Donaldo na Santa Rita.
O Phumbika acabou sendo referência em lanches e destacou como carro chefe em seu cardápio o famoso “Bauru”.
Aliás, no final da década de 80, os famosos carrinhos de lanche do “Ticão e do Merchet” foram as novidades gastronômicas em Aparecida. Eles foram os primórdios em fazer lanches que tinha no “Doguinho” a maior notoriedade. O Hot-Dog e o X-Salada eram muito disputados nas noites aparecidenses.
Na minha época também outra iguaria de muita saída era o famoso “Kibe” do Bar da Binda. O bar lotava toda tarde e cada pessoa acabava comendo três ou quatro desses kibes, fora os que levavam pra casa.
Hoje, quem resiste ainda na forma artesanal de agradar o paladar alheio é o amigo João Gordo, que há mais de trinta anos comercializa seu pastel frito na hora ali, bem em frente ao cemitério velho.
Em tempos de carnaval, a “Canja” do Bar da Zizi na Ponte Alta é algo insuperável há mais de 50 anos. Após as noites de folia é a forma mais gostosa de restabelecer as forças para continuar “pulando” carnaval. O Bar da Zizi é também ponto de referência para os apreciadores de uma “Traíra frita” que ela faz como poucos.
No inverno, comer a mais gostosa “Feijoada” da cidade é no Bar do Zé Maria, que também encanta pelos petiscos “sagrados” que só a Dona Terezinha é capaz de fazer.
Passando pela “Polenta Frita” do Jaiminho, relembro o “Pastel do Jurandir”, a “Pizza” do Bar do Ponto, o “Torresmo” do Bar do Tião, a “Casquinha de Siri” do Augusto, a “Empada” do Luiz Empadeiro, a “Sopa” do Ouro Fino, a “Esfiha” da Tenda Árabe, o “Frango” do João Dalló, o “Espetinho” do Baiano, a “Porção de Bucho” no Bar do Ditão, o “Prato Feito” do Bar Ponto Certo do Mineiro, a “Salada de Frutas” do Bar do Luizão, o “Pão com Mortadela” do Ganha Pouco, a “Torta de Frango” do Restaurante Leid’s e o “Amendoim Torrado” de um rapaz que percorria toda a cidade com uma lata cheia de brasa e que a gente chamava de “Torrado”.
Hoje, essa saudade gastronômica refaz um espaço vazio que começa na lembrança e vai parar no estômago. Insuperáveis gostos que iluminavam o paladar de tantos e sentenciava a importância de muitos.
Ainda é raro comer bem, embora o empenho de alguns supere as expectativas. Os remanescentes desta humilde lista escrevem a lisura da boa comida como dom a ser perpetuado. Isso é dar qualidade no que fazem.
Mas por enquanto, na raridade de agradar o paladar, indico e faço questão de frisar que, no momento, não há coisa mais gostosa na região que a “Empada” da Dona Silvana, mãe da minha amiga Áthila Maia.
Estas eternas manhãs de novembro que o digam...
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