A fuga
...Enquanto ela ia pra casa da irmã passar o domingo todo, ele prometia que ia se comportar e ficaria em casa, acompanhando o jogo pelo rádio. Sim, pelo rádio mesmo. Sentado quieto no velho sofá da casa. O futebol, aquela paixão alvinegra que a esposa tanto odiava, tinha uma conotação ainda mais romântica quando o rádio de pilhas trazia a emoção do jogo. Romantismo que deixava a mulher ainda mais enciumada, pois parecia mesmo que “ele amava o Corinthians e torcia pra ela”. Só que aquele dia era dia de decisão. As mãos trêmulas suavam e era preciso dar vazão aquele nervosismo. Precisava xingar, falar palavrão, gritar o nome do time, se esbaldar numa cerveja bem gelada. Perder a voz literalmente. Depois sair para o abraço. Só mesmo uma paixão assim era capa de fazê-lo trair a confiança da amada. E ele não se conteve... Tinha que torcer também para que o celular não tocasse. Ou, se tocasse, um silêncio conjunto pudesse clarear sua voz no telefone sem denunciar a “fuga para a busca da ...