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Mostrando postagens de setembro, 2010

Melhor idade

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Ele era uma festa. Cabelos grisalhos, verdadeiro galã. Nos bailes da terceira idade ninguém fazia mais sucesso. Todas, sem exceção, queriam dançar com o maior “pé de valsa”. E ele não deixava nenhuma delas sem dar uma volta pelo salão, flutuando pelo poder de sua dança. Um dia, por força do destino ou mais pelo infarto do peito cansado, subiu aos céus. Em seu velório, por ser muito querido e conhecido, muitas coroas de flores de um lado esperando pelo murcho tempo da história. Do lado oposto, outras coroas desoladas, já sentindo saudades dos seus passos no salão vazio...

Volta da luz.

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A parede caiada, novelada com teias aracnídeas, já não sutentam seu retrato. Ele perdeu-se na imensidão vazia da casa sem deixar vestígio que pudesse mapear um encontro pelos cômodos. Seu retrato perdeu-se. Pela manhã, quando pássaros imprimem a liberdade pelo céu, contesto esse desterro. Seu retrato em preto e branco era pregado por punho forte de martelo pesado, não ia se desprender assim. As voltas dos ponteiros do relógio que ficou vai trazendo o dia e clareando o escuro. Mofos de estranhas lembranças precisam lamber o sol. A janela se livra da proteção da velha tramela carunchada. Os raios vão penetrando nesse abismo e tocam a parede à altura do prego fincado, sangrando um sangue imaginário. Essa luz me faz atento pensando que de repente, por ironia de Deus, que também é gente, que seu retrato voltou à parede...

Noções de eternidade

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Uma fita k7 com minha voz recitando poesias do caderno. Meus livretes na estante. Um desenho meu num quadro na parede. A árvore que plantei dando sombra no quintal. Um filho germinando no ventre do amor maior. Você comigo no pensamento. Não. Morrer não é o fim. Meus retratos em branco e preto colorem a nítida impressão deste sempre...

San Tomé.

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Verbo ver. Enxergar para crer.

Extinta

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Lápide apagada. Escrita a lápis não durou nada.

Longo velório

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Funesto de um dia. O carro da funerária foi para a funilaria.

Sedução

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O baton na borda da taça transborda esse tom de ameaça.

Lembrança.

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Uma saudade dura. Teu retrato na moldura.

Tecnologia

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A fita breve nada deve ao dvd.

Amputação

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Se movendo sem um membro depois do onze de setembro.

Incompleto

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O aborto é um declíve. Um sentido morto de quem ainda vive.

100 anos de glórias mil.

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A ausência "daquela" taça em meio ao calendário não ofuscou a nobre raça do grande Time Centenário...

Futebol moleque

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Chuta a bola de primeira. A bola ro o o o o o o o ola na ladeira...

Dois lados.

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No vai e vem do estilingue, o pensamento me embaça. Nada ainda me distingue. Não sou pedra, nem vidraça.

Tempo.

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Sem sentido a hora passa num instante de ameaça. Estampido de um momento que o ponteiro acha graça.

Mulher impossível.

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Madrugada escura que me prende. Cabelos negros que se soltam. Escuridão que surpeende. Sonhos idos que não voltam...

Ressaca poética.

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De dia, a queimação do sol. De noite, a azia da lua vazia. De repente, o céu vomita estrelas...

Luta pelo breu.

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A estrela brilha cheia de ciúme do pisca pisca incessante do solitário vaga lume.

Cardíaco.

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Coronária vertente, sem safena nem estética. Ainda vai sofrer um infarto inspirado essa minha veia poética.

Expediente.

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Folhas amarelecidas voavam na calçada em frente, suavizando o sono do velho gari desatento, que disputava com a vassoura quem era o mais dormente, enquanto os ponteiros davam voltas pelo tempo.

Poeta inseto.

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Na madrugada o pensamento voa atrás de inspiração sem precisar de asa. Diferente das baratas em silêncio procurando migalhas na escuridão da casa.

Pequena coragem.

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Por sua teia invisível a aranha lentamente desce sem ter medo do perigo do vasto chão que desconhece.

Amor secreto.

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Aquilo que suponho, muita vezes a mente esquece. Te quero presa num sonho. Sonho nunca envelhece.

Crepúsculo.

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Quando o sol cai lentamente por detrás do muro, a inspiração clareia as palavras no solitário quarto escuro.

Desterro.

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Parte de mim desceu a rua e com a enxurrada foi embora. Entra logo minha saudade que outra chuva não demora.

Indiscutível.

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A ação do óbvio é o que mais intriga e torna tudo verdadeiro. Assim como sempre vai haver uma formiga passeando ao lado do açucareiro.

Via Dutra.

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O barulho que trafega pela estrada do meu sono é o mesmo que alegra minha noite de abandono.

Bem e mal.

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Em defesa desta plenitude que verseja, Deus imprime a vida neste sol fantástico que se agiganta rachando mamonas da perseguição às minhas costas enquanto escrevo. A noite, enquanto dormi, Ele bailava entre estrelas e assinava em segredo meus sonhos inspirados da inconsciência. Ele se apossa desta proteção fazendo-me amassar o pão que o diabo comeu dando socos em seu estômago. Sua maior angústia é fazer crer que não existe. Ao contrário de Deus que dá provas a todo instante de que está em tudo e muitos não crêem nele. Mesmo assim ele não pára, se reinventando no ar que nunca se vê. Tenta imitá-lo a persistência do diabo que ainda chora de dor depois de vomitar parte de sua maldade enraizada.

Peru.

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Gorjeia a ave presa inconsciente do final onde vai ser a realeza de uma ceia de natal.

Papai.

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Os pilares que sustentam minha saudade somente sua imagem é capaz de derrubar.

Escravo.

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Como um subalterno, viro refém de palavras guardadas a sete chaves nas linhas de um caderno.

Sem verso.

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Latifúndios de palavras improdutivas esperando que pela poética sejam invadidas.

Angra 3

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A nação assiste atônita a construção da estação atômica.

Ladrão.

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Se apanhar vai ser bonito. Não está apto para empunhar o apito.

Hálito.

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Frag mento lyptus: Meu drops caiu ao chão.

D'outro lado.

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A morte é fria. Pálida paisagem que guia à outra margem.

Aves da manhã.

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Cai num vôo em rodopio. Sem nem um pio, pula do galho, pra num desafio, bicar o milho sem acordar o espantalho.

Pedido.

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Destino cego nos leva e não avisa. Ilumine Senhor o chão por onde minh’alma pisa.

Três formas.

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O presente obscuro já se desenha cansado conscinete que no futuro não será mais que passado.

Andanças.

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Amor caminheiro instalou-se no coração. Correu pelo pensamento andou as linhas da mão.

Abrigo.

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A chuva molha o pensamento como um todo. Escapa ilesa a lembrança sob um toldo.

Contínua ação.

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Indícios da mesma trama: Obama caçando Osama.

Apelo.

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Estrelas: algemas que prendem os olhos na noite. Desprendam de mim essa saudade açoite.

Visita.

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Na noite escura, a janela aberta pra rua, deixa entrar o clarão da lua.

Música.

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Os acordes da canção que vêm das cordas do violão.

Desenhista.

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Os traços traçam o dom que tenho. E o punho, de tanto empenho, faz o rascunho virar desenho.

Reciclagem.

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Os peixes esvaíram-se no Arpoador... O lixo do mar vai dando sustento ao pescador.

Anoitecer.

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Tarde vazia... Sem nenhum escrúpulo, o crespúsculo, encerra meu dia.

Viagem.

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Memórias douradas cheias de luz. Dia escurecendo as tardes azuis.

Entardecer.

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Ao fim de mais um dia, o sol se põe. A lua acha graça. Chuva são lágrimas de sol escorrendo na vidraça.