"Zap-Zap"
“Olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que sem você eu
passo bem demais”...
Nunca pensei tanto numa música hoje em
dia como esta do Chico Buarque que descreve com precisão essa espécie de
liberdade em que me encontro por ter desativado o aplicativo WhatsApp do meu
celular.
Notei que mesmo sem querer eu andava
distraído por aí, com os olhos na tela do smartphone, sem nem olhar pros lados.
Isso era um perigo.
Soube de um caso em Guaratinguetá de que
um jovem quase foi atropelado porque atravessava a avenida olhando pro celular,
grudado no “zap-zap”. Em segundos o grupo do cidadão já sabia do acontecido.
Ele se safou como um verdadeiro herói entre os amigos.
São simplesmente 450 milhões de
usuários. Eu tenho, (tinha) você tem,
a velha, o padre, e de repente, até o andarilho tem.
Muitas pessoas abandonaram o aplicativo
por conta da enxurrada de mensagens recebidas. Muitas sem nenhuma importância.
A formação de grupos acarreta ainda no compartilhamento de conteúdo impróprio,
motivo pelo qual quiseram desativar o aplicativo no Brasil.
Outro fato interessante (pra não dizer irritante) é que muitas
vezes a gente está falando com alguém e esta pessoa simplesmente não presta
atenção na conversa. Os olhos estão lá, firmes no “zap” e os dedos
freneticamente digitando, digitando... E você falando como um idiota.
Essa interatividade acaba sendo
prejudicial, principalmente no ambiente de trabalho. A chegada constante de
mensagens também interfere na concentração e diminui a produtividade.
A boa prosa de antes deu lugar a um
punhado de abreviações digitais. “Você” já não é mais você. Você foi
diminuído à “vc”. Sinais dos tempos.
Hoje vejo minha filha Larissa de apenas
um ano e dois meses de idade inspecionar sem nenhuma culpa a tela do celular
explorando-o com o dedinho indicador em riste. Chega a ser bonito a
inteligência da menina, mas soa estranha essa forma precoce de já encarar a
tecnologia.
Dizem que a senha do Wi-fi e um copo
d’água não se nega a ninguém. Mas uma amiga me contou que em um restaurante que
fica na praia de Trindade há um cartaz que diz o seguinte: “Não temos rede
Wi-fi. Por favor, conversem entre vocês”.
A certeza é que a tecnologia aproximou
quem estava longe, ao mesmo passo em que distanciou os próximos. Ninguém mais
conversa olhando nos olhos. Isso é um risco para as relações afetivas. Quero conversar,
ouvir sua voz, não este silêncio tecnológico de agora. Preciso escutar sua
risada que faz chorar os olhos. Não duvidar da sinceridade de um letárgico “kkk”.
A reflexão, no entanto, é saber
estabelecer limites a si mesmo, sem vias de regras.
Será que existe algum aplicativo pra
isso?
Com certeza no Play Store do celular
deve ter...