A peruca voadora
Já foi narrado várias
vezes em crônicas publicadas ao longo do tempo a fidelidade que algumas
romarias tinham em fotografar sempre com o mesmo retratista que labutava na
Praça Nossa Senhora Aparecida.
Um grupo vindo da
cidade de Araxá trazia consigo a história de um lavrador que havia encontrado a
cura de um câncer e estava aos pés da Santa agradecendo pelo milagre.
O chefe da romaria
logo foi procurar pelo retratista oficial que sempre tirava os retratos deles
há alguns anos. Era o fotógrafo Toninho Alfaiate.
-Bom dia, o senhor sabe quem é o Toninho Alfaiate? Estou
vindo este ano na paricida no lugar do meu pai e ele me recomendou que
procurasse por ele...
Impulsionado pela
malandragem e pelo pouco movimento naquela manhã, aproveitando que o Toninho
ainda não havia subido para a praça, o retratista Curau não hesitou:
-Bom dia meu senhor, sou eu mesmo, Antonio Alfaiate. Em que
posso ser útil?
-Ah sim, intão... tem um cumpadre nosso lá de Araxá que
carece muito em tirá um retrato lá na passarela que possa pegá no fundo a
construção da igreja nova...
-Perfeitamente. Vamos lá que eu tenho um lugar perfeito para
enquadrar ele e a basílica ao fundo. Me acompanhe por favor...
O retratista Curau
colocou sua máquina tripé no ombro e arrastou o romeiro consigo até a passarela
recém inaugurada.
O dia estava nublado.
Um motivo a mais para testar a habilidade do fotógrafo já que a luz era
determinante para se obter uma fotografia perfeita. Era só questão de controlar
a abertura da lente com precisão.
E foi de repente que
começou a ventar...
Ali no alto da
passarela a ventania ficou ainda mais forte.
O retratista Curau
tratou de apressar o romeiro que não tirava as mãos da cabeça:
-Meu amigo preciso ser rápido. Ajeite logo seu cabelo e
vamos lá...
Todo encabulado, o
romeiro fez pose, tendo ao fundo a basílica em fase de construção. Foi no mesmo
instante em que uma rajada de vento acabou arrancando a peruca do pobre romeiro
e saiu voando lá pra baixo, parando na copa de uma mangueira.
O coitado do romeiro,
todo constrangido com sua careca forjada pelo uso de medicamentos da sua séria
doença, não quis mais saber de fotografia e saiu correndo. O Curau tentou ainda
inventar que depois retocaria o retrato, fazendo uma cabeleira bonita nele. Mas
não houve acordo.
De volta à praça, o
Toninho Alfaiate, que já estava sabendo de toda história, ficou o resto do dia
fazendo gozação com o Curau que ficou todo acabrunhado com a lição dada pela
espantosa peruca voadora de um romeiro lá de Araxá...