Vômito contemporâneo
Logo de
manhã, lá por perto da Praça Kennedy, adentra ao ônibus um sujeito mal
trapilho, carregando algumas sacolas plásticas surradas, com um cheiro forte de
gente em sua natural essência, contando algumas míseras moedas.
Fixou-se de
pé, ao meu lado, segurando numa daquelas alças de segurança, onde aos poucos,
começou a se dependurar, balançando aos movimentos do ônibus.
Foi quando
eu comecei a reparar em seu semblante: barba por fazer, olhos vermelhos. Um hálito
forte de bebida que sorrateiramente ia inundando as narinas e o ambiente em si.
De repente,
o sujeito começou a amarelar. Os lábios arroxeados denunciavam seu desconforto.
Puxava o ar com força, balançando freneticamente.
Foi quando
eu achei que ele ia vomitar.
Em alguns segundos, minha intuição consolidou-se.
Em alguns segundos, minha intuição consolidou-se.
E começou a
soltar tudo aquilo que lhe acometia: palavras de ordens um pouco
desordenadas como “passe livre”, “fora Dilma”, “congresso de merda”, “abaixo a
corrupção” e outras coisas mais.
O silêncio
de todos ali permaneceu intacto.
Desceu o sujeito
alguns pontos à frente se sentindo realizado por ter soltado tudo que lhe convinha.
No resto do
trajeto, como sempre, ninguém se importou com a sujeira deixada.