Eternamente juntos.


Estou parado em frente a Banca de Jornal do Júlio em busca de alguma notícia interessante nos jornais dependurados. Naquela manhã de sábado, tento me aproximar de uma pessoa cujo escritos me chamavam a atenção pela forma de como ele era fiel às suas lembranças e mantinha um respeito visceral aos seus velhos amigos. Vejo que o fato de sermos “colegas” nas páginas deste jornal e de outros em tempos passados, poderia naturalmente nos aproximar. Isso foi o suficiente para sustentar meu cumprimento diante daquele “mito” do jornalismo e da política aparecidense. A distância estava superada.
Depois da saudação, falamos de coisas banais até o momento em que nossa literatura nos uniu como nas páginas. Eu era um aprendiz. Ele, muito mais experiente, convidava-me a olhar tudo com outros olhos. Dizia que “para se obter algum sucesso, é preciso falar das pessoas”. “Escrever sobre polêmicas deixa no caminho muitas pedras a se remover e isso, aliado a certas vaidades, só fazem do escritor um outro tipo de pessoa comum”, completou. Era a primeira vez em que nos falávamos e parecíamos tão entrosados.
Dentro daquela “aula”, ele me confessou que estaria elaborando um texto onde queria falar sobre “os vereadores negros eleitos em Aparecida desde 1928”. Costurando suas memórias, naquele instante não juntou mais que três nomes: João Aprígio Costa e Candinho, ambos do Bairro de Santa Terezinha, e o grande Marino de Melo.
Ele pareceu sentir meu interesse com o assunto e por isso, como alguém que entrega um pote de ouro que se encontra, alegando também falta de tempo por ser chefe de gabinete do Prefeito Benito, disse que se eu quisesse, poderia garimpar e pesquisar sobre o tema. “Acho que nem mesmo a ressurreição da democracia em 1985 foi capaz de fazer outro negro assumir outra cadeira na nossa câmara municipal. Isso mostra como a cidade de Aparecida é conservadora”, disse ainda.
“É por isso que você precisa pesquisar. Num assunto importante como este não pode haver falhas”, falou num tom implacável e já me pondo responsável pelo texto histórico.
Depois de quase uma hora de uma boa conversa que a gente torce para que não acabe nunca, despedimo-nos. “ Vejo o senhor nas páginas do nosso jornal”, falei provocativo tentando segurá-lo um pouco mais.
“Vejo você por aí”, ouço-o dizendo talvez tentando me mostrar que a presença, a força do diálogo e a do “olho no olho” são ainda mais importantes que a pretensão de ser publicado.
Infelizmente, não voltei a vê-lo vivo.
Mas seguimos então eternizados e juntos nas edições passadas deste jornal...

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