Amigas secretas.
Elas se demoraram num primeiro olhar tentando tirar da boca da outra fiapos grudados entre os dentes de mangas surrupiadas no quintal de uma casa da rua onde moravam. Aquilo foi uma espécie de sinal.
Entre tanta coisa ensinada naquela comunidade, menina não podia beijar outra menina na boca. E elas nunca usavam como arumento o fato de sempre ter visto os moleques escondidos num frenético “troca-troca” juvenil. O sentimento entre as duas era um segredo inviolável.
Foi na escada da igreja numa noite de chuva forte que se beijaram pela primeira vez. Todo mundo desconfiava em vê-las sempre juntas pra cima e pra baixo. Estilo masculino de uma. Nem tanto da outra.
Foram aprender com a vida que o homossexualismo era uma ilha cercada de ignorantes preconceituosos por todos os lados.
Viajavam sempre que podiam e se hospedavam na mesma pousada de Bertioga. Foi lá, regado o consciente de muito vinho, que assumiram um compromisso mútuo que durariam pra sempre.
Aquele Natal Suelen passaria na casa da tia de Andressa. E por ironia do destino, semanas antes, ela havia tirado a amiga no jogo do “amigo secreto”. Escolhera um vestido preto estilo “tubinho” pra presentear a amada.
Devido a uma carta anônima deixada em baixo da porta da casa da tia conservadora de Andressa, o segredo das duas começou a ruir.
Sua tia beata aprontou um escândalo e muita choradeira que culminou por expulsar a sobrinha de casa sem se importar que era noite de Natal.
Andressa era só lágrimas. Tentou por várias vezes ligar no celular da amiga Suelen que só dava caixa postal. Por fim, seu celular acabou ficando sem bateria. Ela saiu sem rumo pelas ruas desertas da cidade tentando encontrar a amiga ou um boteco onde pudesse esquecer aquela injustiça.
Suelen chegou na casa da beata e foi recebida com duas pedras na mão pela mulher. Saiu de lá arrasada procurando desesperadamente por Andressa.
Encontrou a amada sentada num banco da praça com uma lata de cerveja na mão.
Mais livres que tristes, trocaram beijos sem culpa. E Suelen pôde enfim entregar o presente à amiga não tanto mais secreta como sempre fora até ali...
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