Ô cumpadi, vem qui!...
Rua Santa Rita e o Cemitério nos idos de 1925 |
A Família
Pasin chegou ao Brasil em 1888. Estabeleceram-se no Bairro de Santa Rita dos
Machados numa propriedade que era cortada pelo Ribeirão Chácara.
Um deles, o
Pedro Pasin, era um notório pedreiro. Sempre procurado para grandes empreitas,
e também para pequenas reformas nas casas e comércios da redondeza.
Corria o ano
de 1925 e o Pedro Pasin foi contratado pra reformar uma sepultura no velho
cemitério Santa Rita. Um libanês da praça queria aumentar em mais uma gaveta o
jazigo da família e engrossar o reboco para revesti-lo de mármore depois.
Praticamente
recém inaugurado nas terras doadas pelo lendário Simão Miné, o cemitério não era
cercado por muros. Existia uma cerca de arames que limitava o santo lugar com a
rua. Trabalhou a semana toda na empreita até que na sexta-feira a tarde notou
que o tempo começava a mudar. O céu escureceu rapidamente. A ventania trazia a
notícia de chuva forte, sinal também de serviço perdido, pois o reboco do
túmulo tinha sido feito há poucas horas.
Ele juntou
rapidamente suas ferramentas e saiu correndo até sua casa pra pegar uma lona
velha e cheias de remendos para tentar cobrir a sepultura. Foi e voltou
rapidamente. Havia escurecido bem rápido
também. Já não tinha mais uma viva alma perambulando pela Rua Santa Rita. Um verdadeiro
breu.
Em meio a
ventania ele tentava em vão colocar a lona que era presa por tijolos, mas que
se soltava facilmente pelo vento. Foi quando ele avistou na rua um conhecido que,
apressadamente, segurando o chapéu, seguia em direção à Rua do Pinhão.
Desesperado,
sem outra solução, o Pedro Pasin chamou:
-Ô cumpadi, ô cumpadi, vem qui!...
Diante da penumbra
do velho cemitério Santa Rita, o que se viu foi apenas um surrado chapéu voando
pela rua cujo dono havia “dado no pé”. Saído em disparada.
Depois dos
dias de guarda, na segunda-feira bem cedo, lá estava o Pedro Pasin mexendo
outra masseira pra arrumar o estrago que a chuva fez no seu serviço...