O enterro
Mãos postas
sobre o peito.
O que
disseram é que foi de repente. Nem deu tempo de se despedir de ninguém.
Aos poucos,
a notícia deu vazão à tristeza e o local começou a se ocupar de gente.
O burburinho
comum dessas horas deu lugar ao rosário que uma beata começou a rezar em voz
alta. O longo terço demorou uma eternidade.
Uns olhavam
sem acreditar. Outros choravam sem nem mesmo olhar.
A imobilidade
de uma faixa ante uma coroa de flores denunciava a tentativa vã de o impossível
acontecer. A letargia do tempo nos ponteiros do relógio registrava o fracasso
da vida.
A chama das
velas queimava como a saudade. Derretidas, escorriam feito as lembranças.
E o padre,
velho, refletia um semblante puro tentando iludir a razão e persuadir a atenção
dos que permaneciam.
O que doía
era aquela expressão do nunca mais. O gosto amargo do pra sempre.
E retirou-se
do local como quem chefiava um féretro, carregado por mãos amigas.
Como um último
ato, foi capaz de brecar o trânsito e cerrar as portas.
Seguia o dia
demasiado frio.
Os portões da
eternidade eram vigiados por uma dupla de coveiros prontos.
A multidão entrou
ao cemitério em silêncio e com passos em cadência.
Foi a sombra
de uma enorme árvore que testemunharia pra sempre aquele desterro. Folhas caídas
num tapete brusco.
Uns ficaram
ainda atônitos, apreciando a habilidade da morte em simplesmente tomar de
arroubo. Outros já caminhavam por uma alameda de inquietações e saudades.
Foi exatamente
o momento em que eu nunca mais o vi...