"A imagem da Imagem"
Era uma tarde de pouco movimento na Praça Nossa Senhora Aparecida.
Muitos retratistas já haviam guardado suas maquinas tripé e partiam agora para o boteco mais próximo.
O fotógrafo João de Souza varria a entrada do Foto Kennedy, que ficava no saguão de entrada do antigo Hotel Vitória. Tinha ganhado uns trocados, pois minutos antes tinha partido dali do hotel uma pequena romaria rumo a Minas Gerais que puderam eternizar alguns postais e monóculos como lembrança.
Tarde típica para se sentar na cadeira de balanço e tirar um cochilo forçado pela tranqüilidade da praça até então.
Foi quando de repente entra no cine foto a figura emblemática do querido Padre Fré que trazia em mãos algo embrulhado por panos de tecidos finos, mais parecendo seda.
Prontamente o fotógrafo João de Souza foi ver do que se tratava.
Com extrema simplicidade e leveza, Padre Fré pediu licença e desenrolou aquele pano com muito cuidado em cima de uma mesa dizendo: “Seu João, preciso que o senhor fotografe isso pra mim...”
No que ele desenrola por completo o objeto, eis que surge a verdadeira Imagem de Nossa Senhora Aparecida. O fotógrafo levou aquele susto!
O vigário ainda recomenda:
“E o senhor precisa ser rápido com este serviço.”
Com extrema desenvoltura, o fotógrafo João de Souza preparou o cenário cobrindo a mesa com uma toalha vermelha, colocando-a em frente a uma parede esverdeada cor de garapa.
Observado pelo Padre Fré, o fotógrafo empunhou sua máquina, deu dois passos pra trás, focalizou com perfeita paciência e clicou duas vezes a Rolleyflex semi-automática.
O Padre, repetindo o ritual, tomou com todo cuidado a imagem em suas mãos. Abençoou o lugar de trabalho do retratista e antes de embrulhá-la novamente, ouviu do fotógrafo João de Souza a frase que saiu embargada pela emoção: “Salve Rainha”.
De joelhos, ele se benzeu como sempre fazia toda tarde antes de deixar a labuta e ir embora da praça.
Padre Fré, ás pressas, voltou para a Igreja Velha com a relíquia em mãos suspensa em segredo absoluto.
Os negativos de máxima resolução permaneceram guardados a sete chaves nos arquivos do senhor João de Souza desde 1965. Por ocasião de nossa amizade escrita desde os tempos onde meu saudoso pai trabalhou com ele, digitalizamos a “imagem da Imagem”, serena e impoluta, detentora da fé suprema do povo brasileiro.
Com sua autorização, publico para que o mundo "on line" agora obtenha a preciosidade desta obra.
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