A construção da nossa identidade cultural
Antiga Rua do Pinhão - Atual Rua 1º de maio - Década de 1940
As ruas de Aparecida
escondem muitos mistérios. Foi assim que em 1996 a Professora Zilda Ribeiro
resgatou, de alguns informantes, relatos, causos e histórias no seu livro
"Braseiros e causos da Capella" que ajudaram a construir e a
manter um rico cotidiano dos lugares e do povo daqui.
Percorrendo as suas
páginas, consegui destacar algumas citações que eternizaram alguns logradouros
de Aparecida, contribuindo na preservação da memória popular de nossa cidade
com uma linguagem simples e original:
Bairro dos Maias,
atual Rua Antônio Bittencourt da Costa:
... “Purquê essa
rua não era rua ainda, era uma chácara, a Chácara dos Moraes”...
... “Muita gente
dessa rua, gente mais antiga, conta que lá pra cima, devido os iscravo, parecia
muita coisa... O dono desse morro foi um tar de Seu Maia, fazendeiro forte”...
... “Ele tinha
muito iscravo e dizem que eles vórta de veiz im quando. Isso aqui era tudo cafezar
dos Maia”...
... “Nessa
chácara, primeiro se chamava Bairro dos Maia, existiu um quilombo lá no arto”...
Estrada do
Machadinho, Bairro de São Francisco:
... “O meu pai
contava que, a meia noite, vinha lá da estrada do Machadinho, uma procissão de
almas. Essa procissão vinha de vela acesa”...
Rua Santa Rita:
... “Também, os
mais antigo, fala duma mula sem cabeça que passava pur essas banda e ia se
intocá lá pros bambuar do rio da chácara”...
... “Minha mãe,
quando eu era minina de tudo, morava bem de frente o cemitéro. Quando escurecia
nóis já ia entrâno pra dentro”...
... “Diziam que
aqui na Santa Rita, descia do Arto da Candonga, faiz muito tempo, uma mula sem
cabeça sortâno fogo nos casco”...
Bairro dos
Forros:
... “Outro diz
que é do tempo dos iscravo. Ali na fazenda dos Pires do Rio teve iscravo de
montão”...
Ponte do Sá,
atual Praça Padre Vitor Coelho de Almeida:
... “Ele oiô pra
trais, diz que vinha vino uma mula sem cabeça”...Diz que curria por dentro da
cerca e a mula curria pela estrada...Quando ele chegô ali na Ponte do sar, a
mula esperô ele”...
Rua do Pinhão,
atual Rua 1° de Maio:
... “Mamãe
contava muito dum lençór branco que assustava os moradô lá na grota da Rua do
Pinhão”...
Para efeito de registro, esses causos conseguem, através do tempo, aguçar nossa imaginação e constroem a identidade de nossas ruas com suas representações e manifestações. E essa valorização pode ser o início da verdadeira emancipação de um povo que resiste e que luta. Importantes esforços que fazem com que a memória do lugar não se perca jamais.