Está faltando o Cartola...
E eis que todo dia, sou surpreendido pelos mortais no cotidiano das
ruas falando de “Cartola”.
É o motorista do ônibus falando com o passageiro do “Cartola” que depois
fala do “Cartola” com o cobrador.
É o menino que fala do “Cartola” para o pai descendo a praça.
A moça que passa apressada falando do “Cartola” ao celular sabe-se lá
com quem.
Fiquei surpreso que, mesmo depois de 36 anos de sua morte, as pessoas
vem se lembrando do velho Cartola.
Ah Cartola. Imortal Cartola... de “cordas
e nervos de aço”.
Em 2008, ano do Centenário do Cartola, Ruy Castro foi “ter” uma
conversa com o maior parceiro do compositor, Elton Medeiros. Conversa que
depois acabou virando matéria do Jornal O Globo na coluna dominical do
jornalista.
Numa entrevista pra lá de descontraída, Elton relembrou histórias ao
lado de Cartola que mereciam um livro à parte. Falou da parceria, da poesia e
do Zicartola, um bar freqüentado pela
nata da cultura carioca na década de 60 “tocado” por Dona Zica e o próprio
Cartola.
A entrevista ainda estava longe de terminar, quando Ruy Castro foi
obrigado a encerrá-la devido ao trecho que se seguiu:
-Elton, soube que você e o velho
Cartola deixaram alguns sambas inacabados, que com certeza daria um “baita”
disco. Aproveitando o centenário dele este ano, o que está faltando Elton pra você
terminar de compor estes sambas e lançar este disco?
A resposta de Elton Medeiros foi clássica e categórica:
-Ruy, não está faltando muita
coisa não. Está faltando só o Cartola...
Eu não entendi muito bem, mas depois de algum tempo, me decepcionei em
saber que o tal “Cartola” que todo mundo vem falando pelas ruas não é o
verdadeiro Cartola.
Um amigo me explicou que o “Cartola” é um jogo
fictício no qual as pessoas montam seus times com jogadores de futebol da vida
real. Ao final do Campeonato Brasileiro, o participante que fizer mais pontos
leva até prêmios em dinheiro.
Todo
empolgado, ele se empenhou a me motivar a entrar no site e cadastrar um time
pra participar do tal jogo. Eu ainda sou do resto de tempo em que se ouvia o
futebol no radinho de pilhas. E a escalação do nosso time de coração era um
ingrediente a mais na composição do imponderável que aquele jogo ia desenhar.
-Poxa Lúcio... tá faltando você no
Cartola. Disse-me ele, o qual respondi plagiando o grande Elton
Medeiros:
-Está faltando é o Cartola, isso sim...