A pressa do retratista
O retratista Lipão,
sempre que podia, gostava de fazer a feira para a patroa pensando em agradar a
mulher e não levar bronca por às vezes ultrapassar o horário na mesa de baralho
ou no balcão de um boteco qualquer depois do dia de labuta na praça.
Numa sexta-feira de
movimento onde acontecia o Mariápolis na cidade, ele prometeu passar na venda e
comprar tudo o que faltava na dispensa.
A patroa elaborou uma
listinha com tudo que precisava e entregou ao apressado retratista.
Preocupado com o
movimento, ele subiu direto para a praça, esquecendo-se de passar no armazém.
Foi de frente pra igreja que ele se lembrou...
A praça fervilhando de
gente, os colegas já batendo chapas e mais chapas, e ele pensando numa saída
plausível em não atrasar as compras recomendadas pela patroa.
Chamou um moleque que
lavava chapas e entregou a lista pro menino com uma recomendação:
-Serginho, corre lá, compra isso tudo da lista e entrega pra minha
muié. E tem que ser rápido hein....Corre lá vai... Pede marcar na caderneta pra
mim...
O menino olhou
rapidamente a lista e saiu em disparada...
Antes de começar a
captura dos romeiros, Lipão tomou um café no Recreio, acendeu um cigarro e depois
de alguns minutos foi tranquilamente até a Loja Central do Alberto Chad comprar
alguns materiais que faltavam para então pegar firme no trabalho.
Lá chegando, entregou a
lista pro balconista e ficou esperando, ansioso com o movimento.
O balconista ao ler a
listinha disse pro retratista:
-Ei Lipão, café, açúcar e beterraba tá em falta viu... E caiu na
risada.
A patroa não entendeu
nada quando o moleque deixou pra dentro do portão da casa uma caixa de papelão
com doze caixas de postal, sete caixas de filme, quatro pacotes de revelador,
dois quilos de fixador, três caixas de envelopes, quatro pacotes de pedra hume,
três mata borrão e um litro de álcool...