Em memória do Soldado Desconhecido
Era bem cedo quando
encontrei meu grande amigo Eliandro Batista esperando uma consulta nas
dependências do Centro de Saúde de Aparecida.
Em meio a nossa
conversa pitoresca, ele me surge com uma ideia, que na verdade era defendida
pelo seu saudoso pai o “Profeta”, de construir um monumento em homenagem ao
Soldado Desconhecido, que tem uma data comemorativa no dia 28 de novembro, em
algum lugar estratégico de Aparecida.
Aquela conversa
informal tomou de arroubo minha manhã. Conversando com o Eliandro, também pude
saber que um dos entusiastas dessa empreita adormecida era o meu amigo Júlio da
Banca. No mesmo dia tive uma conversa rápida com o Júlio a respeito, manobrando
a nobre ideia na projeção deste feito histórico.
Coincidentemente, na
tarde deste mesmo dia, encontrei com a amiga Beth Freitas, filha do herói e
ex-combatente Dito Freitas, onde o assunto tomou mais ênfase.
A partir desta data me
vi instigado pela concepção desta homenagem a ponto de procurar por sites
específicos na Internet alguma ideia de esboço para a criação do busto ao
Soldado Desconhecido. Foi quando encontrei um blog intitulado “Lapa Azul – Os Homens do III Batalhão do 11º
R I na II Guerra Mundial” onde uma postagem, além da fotografia que ilustra
esta crônica, me chamou a atenção. Era um trecho das memórias de um Tenente
chamado Cássio Abranches Viotti que narra a seguinte história:
“Mal desembarcado o 2º Escalão, eram cerca de 10.000 homens,
foi realizada em Pisa (Itália) uma procissão belíssima.
Os soldados transportavam uma imagem de Nossa de Senhora
Aparecida, cheios de unção, cantando cânticos aprendidos na infância em suas
paróquias do interior. Os italianos assistiam extasiados àquele desfile
triunfal de soldados, cujo troféu era a imagem daquela Virgem Negra do Brasil.
Nunca, jamais, a península italiana, há milênios invadida por
tropa africanas, bárbaras, napoleônicas, germânicas, assistira a um desfile
como aquele, em que oficiais e soldados, irmanados pela mesma fé católica,
davam um exemplo magnífico de religiosidade”.
A postagem era
um estudo sobre a religiosidade do soldado brasileiro.
Há um belo trabalho acadêmico que aborda este tema,
embora não seja o seu foco principal, da escritora Adriane Piovezan (Morte no Mediterrâneo: O Pelotão de Sepultamento da Força Expedicionária Brasileira) que é fruto de uma pesquisa detalhada no Arquivo
Histórico do Exército, onde a autora elaborou uma tabela com os objetos
encontrados nos cadáveres dos brasileiros. Nos relatórios do Pelotão de
Sepultamento há crucifixos, estampas e medalhas de santos, orações, quadros e
imagens religiosos, rosários e até um Novo Testamento inteiro.
Mas a procissão dos soldados em Pisa carregando a imagem da
Santa Aparecida é a maior prova deste processo de agradecimento e elaboração
desta homenagem ao Soldado Desconhecido consolidando a confecção de um busto
que será capaz de viabilizar a manutenção da memória dos heróis da Segunda
Guerra Mundial na Terra da Padroeira do Brasil.