Aos olhos do poeta
Se não me falha a memória, o ano era 1996.
Tínhamos o costume de toda sexta-feira à tarde,
ou sábado na hora do almoço, de juntar os companheiros que trabalhavam comigo
na ARBAL, ou fábrica do Seu Célio, para cairmos na cantoria. O destino era
algum boteco de Aparecida.
Lá instalados na advertência sempre atenta da
liberdade de um copo, o Nivaldo infestava nossa alegria com muita MPB, tirando
do violão a fina interpretação que somente ele era capaz.
Numa sexta-feira, lá no Bar do Márcio que fica
na Rua Pe. Gebardo, Nivaldo teve um momento mais que inspirado quando começou a
tocar “Tarde em Itapoã”, do Vinícius. A viagem sobre aquele momento arrastou
todos os pensamentos possíveis dali, regados a uma cerveja bem gelada, cartão
de visita do saudoso amigo Márcio.
Ao final da canção, o Donão me vem com esta
pérola:
-Nivaldo,
tenho um amigo que o irmão dele mora na Bahia. Ele disse que esteve nesta praia
de Itapoã certa vez e não viu nada de mais. Uma praia qualquer que
não tem nada de interessante...
Aquilo descortinou uma dileta discussão até que
o Nivaldo, dando uma bela tragada no seu Minister disse:
-Mas o
irmão do seu amigo Donão não olhou a praia com os olhos de Vinícius de Moraes
não é...
Não me lembro quem encostado ao balcão que aplaudiu
aquilo que o Nivaldo disse.
O Donão seguiu extremamente pensativo naquilo
que acabara de ouvir tentando esquecer tudo aquilo que seu outro amigo um dia
lhe falou...