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Mostrando postagens de novembro, 2012

Inconsciência infantil

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Outra vez, pela manhã, dei de cara com um papel grudado perto do assento do motorista do ônibus que estampava: “Tarifa R$ 2,25”. Apesar do cotidiano dos passageiros do circular Guará/Aparecida ser difícil, com poucos ônibus, o que acarreta em conduções superlotadas, ninguém reclama dos aumentos da passagem. É um silêncio cortante que fez passar despercebido o acréscimo de 15 centavos. Tão logo o ônibus chegou à rodoviária de Aparecida adentraram no veiculo uma quantidade considerável de pessoas, e entre elas, uma moça com seu filho de aproximadamente sete anos de idade. Subindo os degraus, antes de passar por debaixo da roleta, numa das maiores e mais antigas expressões de humilhação contra a criança que é obrigada na maioria das vezes a engatinhar num local sujo por onde passam centenas de pessoas todo dia, o menino disparou uma pergunta que soou alto pelo ônibus ainda sonolento da segunda-feira: “Mãe, o que é tarifa?” Procurando moedas na bolsa, a mãe teve uma res...

Indícios, mistérios e a queda

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                         A mídia, no entanto, acabou ficando órfã de notícias da queda palmeirense pelo simples fato da torcida alviverde não ter dado as caras no Palestra Itália na volta do time a São Paulo. A imprensa esperava (e torcia) para um quebra-quebra geral que não aconteceu. Poucos “gatos pingados” estiveram lá num pobre e ridículo protesto. Gesto que desenhou um silêncio misterioso, pois, umas das mais violentas torcidas do Brasil, a Mancha Verde, não apareceu pra tocar seu bumbo ou atirar algumas históricas pedras que um dia já foi capaz de destruir a sala de troféus do clube. E foi como um doente terminal que, mesmo muito amado, até mesmo a própria família acaba clamando pelo fim do sofrimento, mesmo incapazes de realizar a eutanásia. A única diferença é que no futebol há sempre há a possibilidade da ressurreição, do renascimento. Foi assim quando o Corínthians caiu em 2007 triunfando depois na glór...

Despertai, Carlucho, despertai!

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Perdi um hábito a algum tempo de não comparecer mais em velório. Acho muito desgastante. Por conta de uma complexidade cada vez maior dentro da minha cabeça, esse ato de “sepultar” algum ente querido faz desordem na minha compreensão. Assim, sempre me pego brincando de que “ velório , só vou ao meu ”. Isso, lógico, se a patroa liberar. Mas no dia 12 de novembro deu certa vontade de espiar um desses derradeiros encontros ( ou seria desencontro?). Foi bem de manhã, quando levei o maior susto lendo numa placa dependura na grade do Cemitério dos Passos em Guaratinguetá o nome daquele que se despedia, seguido de seu inconfundível apelido: Carlucho. Ensaiei. Olhava pela janela do local onde trabalho que fica bem em frente. Fabricava subsídios para enfrentar aquela despedia. Hesitei. Nem mesmo diante dessa tela incomensurável do computador fui capaz de despojar palavras para essa ausência. Via muita gente entrando lá, assim como flores. Flores e mais flores teimando em deixar o ...

Preços

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Deu-se na década de 1990 uma invasão de Coreanos em Aparecida que montaram suas lojas de roupas nos boxes que compõem a estrutura da rodoviária local. Depois de alguns anos, é muito raro encontrar um desses orientais por lá negociando suas mercadorias. Num sábado atrás, percorrendo essas lojas atrás de algumas camisetas, ouvi uma freguesa perguntando para uma coreana o preço de uma blusa feminina, dessas que usam pouco tecido para compor sua elegância: -Senhora, quanto custa essa blusinha? O sotaque carregado da oriental foi categórico: -68... Com a cara de espanto, a freguesa achando muito caro a pequena peça de roupa, ainda teve o humor afiado: -Não. Não estou perguntando sua idade. Quero saber o preço desta mini blusa aqui. Se ao menos fosse "38", talvez combinasse mais com aquele roubo...

Aos teus pés...

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Cresceram juntos na mesma rua. Jonny era filho de um renomado advogado. Antonio, filho de lavadeira que perdera o marido pedreiro quando ele ainda era um bebezinho. Jonny era maldoso. Achava que podia tudo. Antonio apenas suportava aquela miséria com alegria. Certa vez se desentenderam num jogo de futebol lá no campinho. Jonny com sua chuteira importada. Antonio descalço. A culpa foi de uma entrada mais violenta do moleque mau. Depois de rolarem na poeira do chão levando a turma ao delírio, um adulto que passava por perto acabou por separar a briga. Jonny ainda disse a Antonio que ”ele não chegava aos seus pés” e prometeu outro confronto. Antonio, sem demonstrar medo, topou. Depois deste dia foram se afastando um do outro. O orgulho infantil foi dando lugar a uma mágoa toda vez que Antonio lembrava da frase: “você não chega aos meus pés”. Seguiram destinos opostos. Jonny se formou advogado como seu pai que acabou morrendo de infarto anos depois. Antonio ficou por ...