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Mostrando postagens de novembro, 2011

A fuga

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...Enquanto ela ia pra casa da irmã passar o domingo todo, ele prometia que ia se comportar e ficaria em casa, acompanhando o jogo pelo rádio. Sim, pelo rádio mesmo. Sentado quieto no velho sofá da casa. O futebol, aquela paixão alvinegra que a esposa tanto odiava, tinha uma conotação ainda mais romântica quando o rádio de pilhas trazia a emoção do jogo. Romantismo que deixava a mulher ainda mais enciumada, pois parecia mesmo que “ele amava o Corinthians e torcia pra ela”. Só que aquele dia era dia de decisão. As mãos trêmulas suavam e era preciso dar vazão aquele nervosismo. Precisava xingar, falar palavrão, gritar o nome do time, se esbaldar numa cerveja bem gelada. Perder a voz literalmente. Depois sair para o abraço. Só mesmo uma paixão assim era capa de fazê-lo trair a confiança da amada. E ele não se conteve... Tinha que torcer também para que o celular não tocasse. Ou, se tocasse, um silêncio conjunto pudesse clarear sua voz no telefone sem denunciar a “fuga para a busca da

As iguarias

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Em tempos atrás, comer bem ainda era tabu. Era muito raro alguma lanchonete ou restaurante de renome ancorado na busca suprema de agradar com um toque de classe os mais apurados paladares. Com o tempo, passaram a existir em Aparecida muitos bares e lanchonetes que inseriram no mercado iguarias distintas, fazendo que a petrificação de fregueses aumentasse com isso. Quem não se lembra do Restaurante do seu Luizinho “pé de porco”? Como o próprio apelido dizia “ele era capaz de fazer o melhor feijão com pé de porco do Vale do Paraíba”. Vale lembrar que o toque final disso tudo era da saudosa Dona Mercedes. Era sempre no domingo a noite que meu pai ia ao restaurante do Seu Luizinho para comprar o também famoso “Frango com Batata” que ele fazia. Era algo divino. Depois, a conotação em que o “Sanduíche de Pernil” do Bar do Ananias tomou era algo de paralelo muito próximo ao mágico. Diziam as más línguas que o segredo estava na frigideira do bar que o Nanias nunca lavava. Algo folclórico que v

Além luzes

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Foi a saída do último carro por ele vigiado naquela rua que fez com que o barulho das moedas em seu pequeno bolso fluíssem com mais força. Ele já tinha em mente o que compraria com elas. Não seria nenhum brinquedo. Mesmo porque, achava que estava “crescendo”. Todavia, este sentimento lhe tomava claramente, pois, era intimado pelo pai para ir à rua vigiar carros e ganhar algum trocado mísero. Isso parecia-lhe coisa de adulto. Contrariando a fome familiar eminente, foi direto a uma dessas lojas recheadas de artigos de natal. Aquele clima enchia-lhe os olhos. Assim ele foi direto naquilo que mais ansiava comprar: Um colorido pisca-pisca. Com certa consciência, dispensou a sacola plástica oferecida pelo balconista e foi pra casa. No caminho, janelas esculpiam o belo embaladas pelo clima do Natal. Pessoas apressadas caminhavam cheias de pacotes. Ele segurava forte o seu, pensando na felicidade de sua mãe ao se deparar com aquelas luzes clareando o breu da casa. Isso lhe tomava por inte

As forças do além

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Domingo nublado. Vou descendo então a rua do cemitério Santa Rita em direção ao Bar da Jane para assistir ao jogo do Corinthians. Quero esquecer que ali, há anos atrás, era um reduto especialmente de anti-corinthianos, visto que antigamente era o bar do saudoso sãopaulino João Donaldo. Era na ponta do balcão que também ficava secando o timão o falecido Dito Guará, palmeirense clássico nas curtições. Os jogos não passavam na televisão como hoje em dia. Era o rádio a fonte inesgotável de combustível do imponderável. Com a apreensão estampada no rosto, sigo acreditando que este ano meu time possa ser Pentacampeão do Brasil. Quando o jogo começa, recomeça o sofrimento. Pra gente é sempre assim. Vou me concentrando então em todas as possíveis ajudas que do além venham a dominar o destino da bola e jogá-la no fundo das redes adversárias. Penso em todos os meus amigos corinthianos que já partiram desta pra melhor e, numa espécie de transe espiritual, vou mentalizando baixinho o nome del

Onze, do onze, do onze...

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O celular desperta exatamente ás sete horas da manhã. Para os adeptos das ciências ocultas, pode indicar a ocorrência de eventos incomuns. Lá fora, já ouço minha mãe conversando com seu casal de garnisés. Numerólogos e esotéricos procuram sinais do que isto pode significar. No meu banho, afogo os vestígios de sonhos ruins. Alguns acreditam no início de uma nova harmonia no mundo. Sinto fome de rei ao deslocar a minha marmita da geladeira. Outros crêem na abertura de um portal para outra dimensão. Na saída, minha mãe me abençoa em silêncio enquanto meu amor ainda dorme. Há indícios de acontecer até mesmo uma revolução da consciência. O ônibus em frente ao portão do cemitério vai transgredir meu acordo com o dia. Centenas de aficionados pelas ciências ocultas planejam se reunir no dia de hoje para cerimônias e danças. Um pequeno longo percurso entre aqui e lá vai ser bordado pelo inconformismo do ponto final ter mudado de lugar. Médiuns e sacerdotes paranormais renomados comentarão sobre

As velhas inspirações das ruas

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Em 1998 eu era balconista de um bar badalado em Aparecida que ficava bem no começo da Rua Oliveira Braga: o Bar do Chopp, do meu camarada João Siri. Bar frequentado por gente bacana considerada “a nata” de Aparecida. Era todo o sábado que um grupo de moças muito bonitas se juntavam do outro lado da rua, em frente ao bar, pra ficar curtindo a noite. Umas já tomavam um chopinho, outras ainda não tinham idade pra tal. Num sábado assim, me deixei levar pelos encantos de uma moça linda que se encontrava por lá. Devo ter confundido alguma coisa, mas percebi alguns olhares dela pra mim sempre quando olhava naquela direção. Foi assim que eu acreditei na paquera. Impulsionado como sempre pelos versos escritos nos guardanapos de papel, recriei certa coragem e acabei mandando entregar um bilhete à garota com a seguinte frase: “A única distância que estraga, é a rua que nos separa nas calçadas da Oliveira Braga”... Minutos depois, o mesmo moleque que tinha ido entregar o papel, voltou me entregand

Os revoltosos

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Naquele dia ele fez tudo igual: -Saiu gritando pelo campus como todos os outros, sem ter muita certeza por qual razão. Era meio desligado de tudo mesmo. Estudante de história, na verdade queria mesmo era ficar colado numa garota que cursava medicina. Uma morena que arrastava seus pensamentos mais sacanas. Tinha que impressionar. Ia pegar pesado no protesto. Seria a deixa para poder se aproximar da musa. Todos tinham uma “causa”. Ele pensava numa “cauda”. Separou pedras e lançou-as vidraças afora. Estilhaços barulhentos de sua revolta. Foi neste instante em que ela lhe lançou um olhar como quem dizia “é um dos nossos”. Começou então a gritar ainda mais em meio a todos. Sentia que estava no caminho certo. Por sorte, ela não tinha seu rosto coberto. Podia assim apreciar ainda mais a beleza daquela “corajosa” mulher. Mas para ele, não importava tanto a PM ali ou não. Sempre foi um “quebrado”. Por conta disso nunca temeu assaltantes rondando o campus. Diferente de muitos que não estavam po

Os 84 anos de uma Lenda

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A sabedoria deste senhor sobre a arte da fotografia ainda está por ser mensurada. Seu conhecimento passa pelo alcance da inovação da tecnologia e vai além. Muito além... Num clássico exemplo, conseguiu se adaptar a toda essa tecnologia de hoje demonstrando uma grandeza pessoal incomum, envolvida na combinação também incomum de “ausência absoluta de arrogância” e “sensibilidade extraordinária”, onde com extrema habilidade conseguiu dominar um computador e seguir nesse seu oficio mágico de parar o tempo quando fotografa. Assim, pôde compreender a importância do que fazia e descortinar a grandeza e os efeitos disso. Munido de uma conduta meio “transcendental”, sua figura de retratista descreveu uma página histórica, onde ajudou junto de muitos outros “lambe-lambes” a expandir a devoção a Nossa Senhora Aparecida pelo mundo afora, imortalizando momentos de fé, confeccionando instantes belos na memória dos romeiros. Uma pessoa que se desdobra para preencher o presente feito de novos conhecim

"Santa ressaca"

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Era dia 1º de novembro, dia de todos os possíveis santos existentes por aí. Anos setenta, auge da liberdade psicodélica e dos embates contra o impregnado militarismo. Madrugadas subversivas tramadas nos subterrâneos da história em mesas de bar. Meu amigo Nivaldo já era um dos maiores violonistas da época. Conhecedor profundo de todas as manifestações da MPB. Seu aniversário era naquele dia 1º e depois de perambular pelo “Choppão” e pelo Bar do Nenê, foi parar mesmo no último escape da madrugada: o Ce Ki Sabe, que ficava ao lado da prefeitura, bem perto de sua casa ali na Rua Floriano Peixoto, ao lado do cemitério. Era a alegria que infestava os ares dali. Chico Buarque rolando solto na vitrola em canções consideradas verdadeiras “bolas por entre as pernas da ditadura” e que iam driblando a censura com suas letras subversivas escondidas entre metáforas poéticas. Lá pelas tantas, Nivaldo tomou do violão e evocou Vinicius de Moraes. Veio junto Caetano, Vandré, Gil. Alugou a madrugada embr